Jornalista e escritora Daniela Arbex fala sobre genocídio documentado

Passados seis anos desde publicação do livro, discussão sobre assistência psiquiátrica no país permanece atemporal e necessária

VARIEDADES - ANDRÉ ESTEVES

Data 17/09/2019
Horário 07:45
Divulgação: Daniela fala sobre como chegou a cada um dos sobreviventes
Divulgação: Daniela fala sobre como chegou a cada um dos sobreviventes

Em 2013, a jornalista e escritora mineira Daniela Arbex rompeu o silêncio sobre o genocídio de 60 mil mortos no maior hospício do Brasil, conhecido por Colônia, situado na cidade de Barbacena (MG). Passados seis anos desde a publicação do livro “Holocausto Brasileiro”, a discussão sobre a assistência psiquiátrica no país permanece atemporal e necessária. Fora das páginas, a autora continua levando o tema para os centros de debate e agora o reacende em Presidente Prudente, onde participa, nesta quinta-feira, de um bate-papo sobre os bastidores da composição do livro. O encontro ocorre no Hotel Portal D’Oeste, a partir das 19h30.

Em contato com a reportagem, Daniela defende que, mesmo após a reforma psiquiátrica instalada no país, os riscos de retrocesso ainda são altos, sobretudo com a nova orientação para a Política Nacional de Saúde Mental, que prevê a manutenção dos manicômios. “Nesse atual contexto, falar sobre o ‘Holocausto Brasileiro’ é conscientizar a população mais jovem sobre os perigos que a segregação, o preconceito e a intolerância provocam”, expõe a autora, que retratou em seu livro-reportagem o funcionamento do campo de concentração na cidade mineira. Em sua abordagem em Prudente, Daniela pretende discorrer sobre como chegou a cada um dos sobreviventes do holocausto e do impacto disso para o país. “Os pacientes nunca haviam sido procurados. Foi a primeira vez que puderam falar”, comenta.

Para a jornalista, entre os inúmeros resultados obtidos a partir da publicação da obra, um dos mais importantes é a discussão sobre o tratamento em liberdade de pessoas com doenças mentais e a importância de resgatar e preservar a sua dignidade até então confiscada. “Caminhamos muito nesse sentido, mas ainda temos muito a avançar, os desafios permanecem enormes. É preciso continuar refletindo sobre o que podemos fazer para que não venhamos a ter novos holocaustos”, analisa.

Seu trabalho voltado para a construção da memória coletiva no país também rendeu a publicação de “Todo dia a mesma noite [a história não contada da Boate Kiss]”, em 2018, no qual Daniela aborda um segundo holocausto: a morte de 242 pessoas durante um incêndio em uma boate de Santa Maria (RS), em 2013. “Acredito que o meu trabalho, de alguma forma, pode contribuir para que essas tragédias não voltem a acontecer”, destaca a autora, que busca dar visibilidade a histórias mantidas por muito tempo na invisibilidade para evitar o seu esquecimento. “Porque esquecer é negar a história”, frisa.

Desinstitucionalização

O grupo responsável por trazer Daniela a Prudente é o Pratices, voltado para treinamentos, consultoria e educação em saúde. O psicólogo e educador em saúde, Lucas Bondezan Alvares, explica que resolveu convidá-la pelo fato da escritora ter possibilitado um registro jornalístico e investigativo sobre o que ocorreu no hospital Colônia, de modo que as pessoas pudessem abrir o seu olhar para as questões de saúde mental, “olhar este ainda muito fechado na prática manicomial”. “Se não fosse esse trabalho, não teríamos um documento histórico para afirmar que, de fato, os manicômios tiveram função segregante”, considera.

Lucas ressalta que “Holocausto Brasileiro” tem relação próxima com a luta antimanicomial, que defende uma nova forma de assistência psiquiátrica, colocando a atenção em saúde mental não mais sob a perspectiva institucionalizante, mas a partir do tratamento em rede e sem o isolamento social. Para o organizador, tal proposta não deve estar restrita somente ao interesse de médicos e psicólogos. “Este evento é direcionado tanto aos profissionais da saúde quanto às pessoas do direito, jornalismo, educação e história ou simples interessados pela temática”, pontua.

Inscrições

Para participar, os interessados devem fazer inscrição prévia no endereço e-inscricao.com/pratices/holocaustobrasileiro. Para mais informações, entre em contato pelo telefone 99134-7658 ou e-mail consultoriapratice@gmail.com.

 

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