JR Black, de Epitácio, encerra ciclo de lançamentos com álbum e clipe  

“Relatos de Periferia”, que será divulgado neste domingo, é uma crônica sonora e visual sobre o que se vive, se silencia e se sonha nas bordas do país

VARIEDADES - DA REDAÇÃO

Data 07/09/2025
Horário 08:23
Foto: Divulgação
Clipe de “Relatos de Periferia” é um retrato visual potente e sensível, filmado na quebrada e à beira do rio, entre sombras e pores do sol
Clipe de “Relatos de Periferia” é um retrato visual potente e sensível, filmado na quebrada e à beira do rio, entre sombras e pores do sol

Após lançar no dia 31 de agosto o álbum “A Vida Tem Pressa”, o rapper JR Black, de Presidente Epitácio, finaliza agora um potente ciclo de lançamentos com a chegada do single e videoclipe “Relatos de Periferia”, que será lançado neste domingo. Embora não integre o álbum, a faixa aprofunda e encerra com força simbólica esse percurso de resgate, amadurecimento e afirmação estética que marca esta nova fase do artista.

“Relatos de Periferia” é uma crônica sonora e visual sobre o que se vive, se silencia e se sonha nas bordas do país. O clipe — filmado com luz natural, câmeras atentas  e poesia bruta — alterna cenas de performance com imagens da quebrada, do pôr do sol sobre o rio, de espaços esquecidos e gestos cotidianos, entre a dor e a beleza. A estética é realista e sensível, construída sobre contrastes: um fio de flor crescendo no concreto, o vazio de um campinho abandonado, uma camisa manchada de sangue, um olhar de criança na janela. Mais do que retratar a violência, o clipe revela suas ausências: o que não se tem, o que se perdeu, o que ainda pulsa.

Assim como o álbum que o antecede, o clipe busca impactar pela verdade. É melancólico sem ser resignado, simbólico sem ser abstrato, direto sem ser panfletário. Um canto necessário que traduz o que não se ouve nas estatísticas.

Tanto o álbum “A Vida Tem Pressa” quanto o single com videoclipe “Relatos de Periferia” foram realizados com recursos da PNAB (Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura), e contam com o apoio do Ministério da Cultura e do Governo do Estado de São Paulo, por meio da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas.

“A Vida Tem Pressa” não é apenas um disco — é uma travessia. Produzido por Abdalla Beatz, parceiro de longa data, o álbum apresenta sete faixas que conversam com a juventude periférica, com os fantasmas do cotidiano, com a herança da música negra dos anos 70 e com a esperança insistente de quem ainda acredita na palavra como ferramenta de transformação.

“Notei que precisava atingir a juventude periférica, principalmente do meu bairro, com a realidade que nós vivemos. Sem maquiagem, direto ao ponto mais crítico”, revela JR Black, ao comentar a virada em sua carreira.

Quebrando o medo

A escolha de sair da zona de conforto e propor um álbum mais melódico e conceitual não veio sem desafios. Um deles foi vocal. JR Black, conhecido por sua lírica firme e timbre grave, se arrisca aqui a cantar — e canta com alma. Os refrões ultrapassam a métrica tradicional do rap, deslizando por desenhos melódicos refinados e, por vezes, inesperados.

“Foi um grande desafio eu cantar, até por conta do meu timbre. Eu quis quebrar esse medo, sair da bolha e partir pra algo mais comercial. Ouvi muito o álbum “Boogie Naipe”, do Mano Brown, pra ampliar minha referência”, conta.

A construção do disco foi feita do zero. Sem samples de outros artistas, os beats de Abdalla Beatz nascem a partir das letras e se moldam aos sentidos. Há ali texturas que evocam o soul, o jazz, o funk, o samba malandro — tudo embrulhado em batidas que respiram e expandem.

“Resolvemos criar músicas e visuais que remetem à sonoridade dos anos 70, porque o rap deriva dessa musicalidade negra, dessas ideologias. Fizemos isso pra resgatar e enaltecer essas referências, mas também pra nos desafiar a sair do que estávamos acostumados”, afirma Abdalla.

Ao longo do álbum, nomes como Malcolm X, Dandara, Nina Simone, Carolina Maria de Jesus, James Brown e Gilberto Gil são citados como bússolas — figuras que ajudam a costurar identidade, memória e futuro. Esse gesto evidencia que “A Vida Tem Pressa” também é um álbum sobre legado.

“Meu foco foi criar letras que as pessoas se identifiquem, independente da idade. Quero que esse álbum continue sendo ouvido entre cinco, dez ou 20 anos. Que deixe algo pro rap nacional”, diz JR Black.

A maturidade se expressa não apenas nos temas abordados, mas também na escolha estética: beats mais elegantes, letras mais sóbrias, mensagens mais profundas. É um trabalho que não grita para chamar atenção — mas que permanece. Não depende de truques ou fórmulas, porque se ancora na vivência, na experiência e na coragem de fazer o simples com intenção.

“Tudo correu dentro de um prazo curto, foi intenso, mas conseguimos manter o foco no conceito. Ouvi muito Marvin Gaye, Cassiano, Tim Maia, JDilla, Racionais. E busquei também artistas menos conhecidos, porque esse álbum precisava ter alma”, reforça Abdalla.

Entre flow e canto, entre denúncia e acolhimento, JR Black se posiciona como alguém que viveu o que diz — e que agora quer partilhar esse caminho com quem vem depois.
“A vida é muito curta, não dá pra perder tempo com o que faz mal. Esse álbum mostra isso. Que a gente não pode esperar mais. Que a arte precisa tocar agora.”

SERVIÇO
“A Vida Tem Pressa” está disponível nas plataformas digitais. E “Relatos de Periferia”, com estreia marcada para hoje, chega como fecho poético, político e audiovisual de um ciclo que pulsa com verdade.

Ouça com atenção. Assista com os olhos da rua. Porque quando o tempo corre — quem não diz o que precisa, se cala pra sempre.



 

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