Liberdade: independência ou dependência moral?

OPINIÃO - Leonardo Delatorre Leite

Data 05/04/2022
Horário 05:00

As disputas e reflexões acerca da liberdade humana percorrem a história do pensamento filosófico, representando, assim, uma questão plurissecular, cujo conteúdo implica uma série de novas ponderações e referências constantes aos pensadores e conceitos do passado. Numa primeira análise, é importante frisar que a ascensão de correntes deterministas e fatalistas, isto é, de interpretações da realidade responsáveis por atribuírem ao contexto socioeconômico, aos elementos da conjuntura histórica e aos aspectos biológicos os principais motores e origens das ações humanas, levantaram questionamentos acerca da existência da liberdade nas escolhas dos indivíduos. 
Não obstante, tais visões são reducionistas e ignoram a complexidade da constituição do ser humano, desprezando, por conseguinte, a capacidade das pessoas de superação  das contingências oriundas de seu contexto social e dos limites relacionados aos seus instintos em prol da concretização de outros valores. Destarte, o homem é livre na medida em que é responsável por suas ações. 
Sob essa perspectiva, é premente a distinção entre a liberdade no sentido de autoria exclusiva por suas escolhas e a liberdade plena, isto é, a liberdade efetiva, que acarreta a plena realização humana. Desse modo, o pensador grego Aristóteles era categórico na afirmação segundo a qual a felicidade exige como condição indispensável a prática do bem, ou seja, das virtudes, compreendidas enquanto disposições ou estados de caráter. 
Na Idade Média, São Tomás de Aquino retoma as teses aristotélicas e estabelece uma relação inexorável entre liberdade, felicidade e o sumo bem, pois só é verdadeiramente livre aquele que age conforme aos ditames das virtudes, as quais encontram-se ancoradas no amor. Nesse sentido, afirma o filósofo em questão: “Porque todas as coisas, por sua natureza, desejam o bem e tendem ao bem. O bem é, na verdade, aquilo por que todas as coisas anseiam”. 
Diante disso, pode-se afirmar que o homem só é plenamente livre no exercício constante daquilo que é certo, da busca genuína pelos valores do bem comum, da caridade e da moralidade. Destarte, aquele que almeja tão somente a concretização de suas vontades particulares, torna-se escravo de suas paixões, dos seus desejos e, quando menos espera, encontra-se acorrentado em vícios perniciosos, os quais levam ao autoengano, ao individualismo e à alienação. Nas palavras do abolicionista brasileiro, Joaquim Nabuco, “independência e liberdade são expressões muito diversas; o homem livre nunca é independente, porque a liberdade é a dependência moral”. 
Em vista disso, o homem, embora seja livre na medida em que é responsável por suas ações, não  usufrui da liberdade plena, a menos que busque, de forma honesta, os valores atrelados ao bem e ao conteúdo axiológico da ética das virtudes, visto que agir de acordo com a lei moral é o que dá ao indivíduo o verdadeiro motivo de realização completa, conforme apontava São Tomás de Aquino. Por fim, sejamos firmes no propósito de impedir o mal e fazer o bem. Faça a coisa certa, isso é tudo que importa. 
 

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