Mães estreitam laços com filhos por meio da educação

Ana Cláudia Pereira Brustelo se especializa em Libras para estabelecer comunicação mais efetiva com Matheus; e Luana Bezerra de Medeiros concilia carreira na universidade com tarefa da maternidade

PRUDENTE - DA REDAÇÃO

Data 12/05/2024
Horário 05:00
Foto: Emerson Sanchez/Unoeste
Ana Cláudia iniciou curso de Libras para garantir comunicação mais inclusiva ao filho, Matheus
Ana Cláudia iniciou curso de Libras para garantir comunicação mais inclusiva ao filho, Matheus

Neste domingo, é comemorado o Dia das Mães. Dia de festejar e celebrar a vida de quem mais nos ensina, protege e defende em várias situações ao longo da vida. Mulheres aguerridas, batalhadoras e exemplos de amor incondicional aos seus filhos. Na Unoeste (Universidade do Oeste Paulista), perfis assim existem em todos os seus campi, por onde circulam mães alunas, mães professoras, mães funcionárias. Duas dessas mães têm algo em comum: enxergaram na educação e no conhecimento a melhor forma para estreitar ainda mais o laço fraternal com seus filhos.

São elas Ana Cláudia Pereira Brustelo, aluna da pós-graduação “Especialização em Libras: Prática e Tradução/Intérprete EAD”, e Luana Bezerra de Medeiros, que é professora do curso Estética e Cosmética, em Prudente. Ambas colecionam em suas histórias descobertas que fizeram com o que o amor incondicional pelos seus filhos só aumentasse – se é que isso é possível.

Formada em Letras pela Unoeste em 2015 e trabalhando atualmente como docente nos ensinos fundamental e médio de uma escola particular de Prudente, Ana Cláudia tem 36 anos e é mãe solteira de dois filhos: o Lucas, de 17 anos, e o Matheus, de 14 anos.  Em 2020, mesmo após formada, ele decidiu voltar a estudar na Unoeste para se especializar em Língua Portuguesa (oralidade e escrita). Concluiu essa especialização no ano seguinte e, em setembro do ano passado, voltou para a instituição pela terceira vez para cursar pós em Libras (Língua Brasileira de Sinais). E por que ela decidiu fazer isso?

“Para garantir uma comunicação mais inclusiva e acessível a todos, especialmente ao meu filho, Matheus. Ele é surdo e usa implante coclear, que é um dispositivo implantável de alta complexidade tecnológica para restaurar a função da audição nos pacientes portadores de deficiência auditiva profunda e que não se beneficiam do uso de aparelhos auditivos convencionais. Ele gosta muito do aparelho, mas mesmo com todo recurso que o implante proporciona, senti que não estava sendo suficiente para o seu desenvolvimento”, afirma ela, acrescentando que, ao passo em que Matheus ia crescendo e interagindo com outras pessoas, a comunicação ia ficando ainda mais difícil. 

“Na escola, as dificuldades se intensificaram. Ele não conseguia aprender, mal conseguia escrever o próprio nome. Fazia uma série de terapias com equipe multiprofissional, o que incluía fonoaudiologia, e tinha treinos auditivos sempre estimulando a oralidade. Ouvi muito que ‘por usar implante coclear, ele não deveria aprender Libras para não ficar com preguiça de falar’; até que um dia, enquanto eu treinava o alfabeto e um diálogo para apresentar na disciplina do curso de Letras, notei que ele me observava e sem dificuldades repetia o meu treino. Em seguida, conseguiu unir letras e formar seu nome. Foi então que vi um caminho e quis conhecer mais sobre a comunidade surda e Libras”, explica.

Foto: Cedida - Arquivo de família: Ana Cláudia e os filhos Lucas e Matheus

Prova de amor

Nesse período, a mãe observadora e inquieta soube também da falta de profissionais intérpretes em diversas áreas, principalmente nas escolas. Decidiu fazer um minicurso oferecido pela Secretaria de Educação e atuar na ASSPP (Associação de Surdos e Surdas de Presidente Prudente). “Eu não imaginava que havia tantas pessoas passando por situações semelhantes à nossa, em busca de algo fundamental e que deve ser o básico para o indivíduo, a comunicação”, avalia.

Hoje aos 14 anos, Matheus consegue expressar os seus sentimentos e as suas vontades e consegue dizer o que lhe agrada ou não. Tudo resultado da busca incessante da Ana Claudia por melhores condições. “O amor incondicional, o desejo de vê-lo crescer e se desenvolver plenamente e garantir que seus direitos sejam cumpridos são o que me motiva. Minha rotina é bem corrida: trabalho, estudos, meus e dos meus filhos, terapia com fonoaudiólogo, afazeres domésticos etc. Conciliar tudo isso é extremamente desafiador, mas sempre valeu a pena”, diz, orgulhosa. 

A pós em Libras que Ana Cláudia continua cursando na Unoeste será concluída em julho deste ano. Mas em casa ela já tem aplicado muito conhecimento na prática. “A Libras é presente no nosso cotidiano, utilizamos em quase todas as situações. É por meio dela que o Matheus consegue assimilar conceitos e estabelecer uma comunicação mais efetiva”, pondera.

Aprendizado contínuo

Ana Cláudia nunca teve dúvidas de que ser mãe é um dom divino. “É ter um coração batendo fora do peito, é encontrar forças onde nem se imagina que exista. Claro que não é uma tarefa fácil, mas é o maior aprendizado que eu já tive”, comenta.

“Para outras mães nessa mesma condição, eu diria que a jornada de ser mãe pode ser desafiadora, mas também é incrivelmente enriquecedora. Não apenas estamos sempre aprendendo sobre as necessidades específicas de nossos filhos e como melhor atendê-los, mas também estamos constantemente aprendendo sobre nós mesmas e sobre o mundo ao nosso redor. É importante abraçar essa jornada de aprendizado contínuo. Isso significa estar aberta a novas informações, novas estratégias de apoio, novas perspectivas e novas formas de promover a inclusão e a igualdade para nossos filhos”, pontua.

Foto: Emerson Sanchez/Unoeste - Foi pelo filho Alexandre que Luana não desistiu de fazer carreira dentro da universidade

Em prol do filho

Luana Bezerra de Medeiros Vasconcelos, de 38 anos, é outro exemplo de mãe que sempre fará de tudo pelo filho. Professora no curso de Estética e Cosmética da Unoeste há um ano e meio, ela é mãe do Alexandre Medeiros Lourenção, de 13 anos. Foi por ele que não desistiu de fazer carreira dentro da universidade onde chegou para trabalhar numa outra função, em 2013.

“Eu entrei como auxiliar de laboratório no curso de Estética e Cosmética. Enquanto eu estava ali com aquele monte de alunos e professores, pensei comigo mesma: ‘eu preciso aproveitar essa oportunidade’. Decidi então estudar e aí conversei dentro da minha casa. Foi algo muito desafiador porque veio o medo em relação à idade, em ser mãe, como que eu ingressaria nesse novo desafio no meio de tantos jovens. Mas fui muito acolhida pelos professores, pela minha turma. Fiz então uma graduação maravilhosa que me levou a buscar pelo mestrado também. Eu sempre acreditei que o conhecimento é algo que transforma realmente as nossas vidas. A minha já foi transformada”, conta emocionada a mãe, que já está concluindo o mestrado em Ciência Animal.

Hoje, a Luana atua no curso de Estética e Cosmética, na supervisão de estágio. Mas ela lembra que não foi tão fácil assim chegar onde está. Houve um momento que até pensou em desistir enquanto estava na graduação que cursou na Unoeste entre 2018 e 2021.

“Pensei nessa possibilidade diante de um momento particular que nós tivemos, em querer ajudar o nosso filho dentro da escola. Até então a gente não sabia o que estava se passando. Eu achei que era o momento de me anular para poder ajudá-lo. Eu pensava que eu estava sendo egoísta, querendo estudar e deixando meu filho de lado. E foi quando a minha coordenadora, Bruna Corral [coordenadora do curso], me orientou a buscar auxílio junto ao SUAPp [Serviço Universitário de Apoio Psicopedagógico] da Unoeste. Ali eu fui orientada de uma maneira muito maravilhosa, recebi um abraço forte da Cecília [Creste], que me orientou a buscar ajuda para o meu filho sem ter que abandonar a graduação. E foi o que eu fiz, não desisti dos estudos e fui buscar a ajuda que eu precisava”, relata.

Hoje, o filho Alexandre só tem enchido de orgulho a mãe que não mediu as palavras para elogiá-lo. “O Alexandre é maravilhoso, um menino excelente, e só tem nos dado muitas alegrias. Tem um conhecimento extraordinário, uma inteligência fora do comum. O intelecto dele é bem avançado e vai muito além do que um dia eu imaginava. Hoje, ele atua dentro da nossa igreja, na parte da mídia, fotografando e filmando. Eu creio que depois que eu tive essa ajuda, nós conseguimos direcioná-lo de uma maneira única”, completa.

Neste domingo voltado a todas as mães, a mensagem deixada pela Luana é especial. “O que eu digo para as mães hoje é para serem intensas. Seja a melhor mãe, pois o melhor patrimônio que nós temos são os nossos filhos. Hoje o meu maior patrimônio, meu maior alcance, minha maior meta é ver o meu filho bem, ver meu filho feliz. É chegar em casa e saber que eu batalhei mais um dia e ele está ali me esperando, cheio de sonhos, e isso não tem preço. Então, mães, vivam tudo o que vocês podem viver com seus filhos. Eles são a nossa razão, é tudo por eles, não é mais sobre nós. Feliz Dia das Mães a todas as mães e sintam-se abraçadas, amadas e acolhidas pelos seus. Que cada uma consiga direcionar sua vida e a de seus filhos da melhor maneira possível”, considera.

Foto: Cedida - Arquivo de família: a professora Luana no aniversário de três anos de Alexandre

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