Mancuzo é de esquerda?

Roberto Mancuzo

CRÔNICA - Roberto Mancuzo

Data 24/11/2020
Horário 06:08

Sim, sou. E digo mais: eu amo ser de esquerda e tenho orgulho desta orientação política porque ela nada tem a ver com partidos como o PT, PSOL, PC do B, comunismo, socialismo e outros termos que críticos costumam logo agregar. Ou o que preconceituosos, gostam de vomitar para agredir. 
Certa vez, fui apresentado em uma festa a um grande empresário de Presidente Prudente e conversa vai, conversa vem, ele soube que eu era jornalista, professor universitário na Unoeste e pesquisador social na Unesp. Sabe qual foi a reação dele: “Então, quer dizer, que você faz parte da esquerda improdutiva deste país?”. Que rotulada! Sem mais, nem menos! Mas, sabe, aquele dia me fez pensar que sim, sou da esquerda. Claro que não improdutiva, mas a esquerda que eu acredito e que gosto de jogar na cara de gente como aquele senhor.
A maneira mais fácil de ser um completo idiota em política é alinhar esquerda ou direita a questões de produtividade, dinheiro, partidos ou personalidades políticas, os chamados “políticos de estimação”. Rezo por um mundo em que um dia as pessoas saberão separar esta condição. Quero dizer que posso até conviver bem com quem ama o Lula ou o Bolsonaro porque concordam com o que eles representam politicamente na sociedade e não por serem de “esquerda” ou “direita” ou só por serem “mitos”.
Ser de esquerda significa que estou muito mais ao lado da igualdade social e da crítica veemente ao capitalismo desenfreado, sem escrúpulos e predatório. Eu vivo o capitalismo, tenho propriedade, moro muito bem obrigado, mas isso não significa que tenho que dizer amém quando todo um complexo econômico privilegia meia dúzia de pessoas em detrimento a milhões e milhões de trabalhadores como eu. 
Eu sou de esquerda porque minha mãe, a dona Bete, me ensinou a ser. Ela sempre me convenceu de que eu preciso dividir, saber socializar o que tenho em abundância. Não, não venha me dizer para dividir minha casa com os pobres. Isso é argumento medíocre. Sim, eu tenho carro, casa, moro em condomínio de alto padrão, mas não é isso que eu preciso dividir com quem mais precisa. Eu divido o meu tempo com quem precisa, eu divido minha consciência e meu conhecimento, e de graça, muitas vezes. Eu não guardo num cofre. Aliás, nem cofre eu tenho. Eu socializo a minha vida na medida da minha abundância. Eu escrevo, estou na rua, na igreja, na faculdade e sempre vou lutar e oferecer meus braços e minha inteligência para a mudança e emancipação dos mais necessitados. 
E isso vale para os dois lados. Ser de direita ou esquerda não tem a ver com ter ou não ter, ser rico ou pobre, ganhar bem ou não. Ser empresário ou trabalhador. 
Ser de direita ou esquerda significa se posicionar como cidadão e, neste sentido, a esquerda, por tudo que há nos livros e que eu tiro de ensinamento prático, me ensina muito mais a ser social do que a direita. Simples assim, eu me reconheço.
Ah, mas e o PT? Bem, o PT me decepcionou forte nos últimos anos e não reconhecer os erros cometidos, até hoje me decepciona. Mas se um dia isso acontecer, eu digo que posso me reconciliar e se ler isso nesta crônica fará de mim um grande inimigo seu, posso até passar o contato certinho daquele empresário que me julgou tão mal e porcamente e vocês podem sentar juntos para falar mal dos “esquerdistas”. Porque se para você eu sou um mero “esquerdista”, vá para lá com sua “direitice”. 
E adianto também que antes de falar mal, entre na fila e se prepare porque ela é bem grande e enquanto espera sua vez de me chamar de “improdutivo” saiba que eu estarei por aí atrás de resolver, ajudar ou me solidarizar com todo aquele que sofre as atrocidades de um país tão desigual.
 

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