MC Kevin e a cultura do “ser jovem”

OPINIÃO - Matheus Teixeira

Data 29/05/2021
Horário 05:00

A juventude é uma fase bastante complexa! A cada nova década, os jovens têm determinadas atitudes, geram e repetem seus próprios modismos. Não dá para generalizar, mas um aspecto que une os jovens de várias gerações é a vontade de viver “de tudo”. Contudo, viver “intensamente” tem um grande risco: viver pouco. As investigações que chegaram até o momento à imprensa sobre a morte de MC Kevin, aos 23 anos recém-completados, mostram que ele parecia ser um reflexo parcial da cultura do “ser jovem”. O artista morreu no último dia 16 de maio após sofrer traumatismo craniano e hemorragia decorrentes do impacto da queda que sofreu da varanda do 5º andar de um hotel no Rio de Janeiro.
Em muitos países, especialmente os do Ocidente e com mais liberdades, “ser jovem” é quase sempre ter o desejo de independência financeira e romper com muitos paradigmas da vida em sociedade, como a prática do sexo livre, o uso e o abuso de drogas lícitas e/ou lícitas, a vivência da sensação de “ter todo o tempo do mundo”, não ter grandes preocupações e “deixar rolar” profundamente as mais variadas emoções. Nem sempre esses ingredientes estão todos juntos, mas viver em perigo serve de estímulo para boa parte dos jovens. Viver desenfreadamente tende, infelizmente, a se tornar padrão.
Há jovens de tudo quanto é jeito: retraídos, efusivos, responsáveis, irresponsáveis, centrados, temperamentais, consequentes, inconsequentes, ricos, pobres, os que estudam e trabalham, os que nem estudam nem trabalham, e tantos outros tipos... Mesmo em perfis tão heterogêneos enxerga-se uma semelhança, em maior ou menor grau: a carência. E as redes sociais virtuais vêm, há quase duas décadas, estimulando-a. O jovem de hoje pode encontrar aceitação em “bolhas” da internet, prender-se nesses nichos e reproduzir comportamentos esperados por seus membros, custe o que custar, para ganhar atenção, ser aceito (ou parecer ser) e registrar a coletividade seu pertencimento social.
As interações, físicas e virtuais, são capazes de esconder muitos problemas, nem sempre notados por família, amigos e colegas. Um sorriso no Instagram ou numa rodinha de conversa pode ocultar sofrimentos, às vezes propulsores de eventos aparentemente inesperados de gravidade, como a violência autoprovocada, que inclui as tentativas de suicídio, o suicídio de fato, a autoflagelação, a autopunição e a automutilação. De acordo com o Ministério da Saúde, de 2011 a 2018 foram notificados 339.730 casos de violência autoprovocada, sendo que 154.279 (45% do total) ocorreram em jovens de 15 a 29 anos – em 2011, 6.979 casos nessa faixa etária; em 2018, 44.987, representando aumento de 544% em um período de apenas sete anos. Estudos preliminares apontam que a pandemia poderá agravar a situação.
 

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