Médico prudentino trata indígenas isolados

José Luis Boni Junior vive na Terra Tumucumape, e cuidou de 1.230 índios contaminados: ato de coragem e amor ao próximo

PRUDENTE - SINOMAR CALMONA

Data 26/07/2020
Horário 04:00
Cedida - Médico prudentino prepara-se para atender grupo de crianças indígenas, numa das 25 aldeias que percorre durante 20 dias
Cedida - Médico prudentino prepara-se para atender grupo de crianças indígenas, numa das 25 aldeias que percorre durante 20 dias

Desistir nunca fez parte dos planos do médico José Luis Boni Junior, jovem de família humilde da Cohab, em Presidente Prudente, que com sacrifícios formou-se em Medicina na Bolívia. Obstinado pelo sonho de ser médico, estudou o fundamental no Sesi (Serviço Social da Indústria) da Vila Furquim e o ensino médio na Escola Estadual Monsenhor Sarrion. Cursou Medicina na Universidad Cristiana de Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia. Após a formatura, sofreu 3 anos em Presidente Prudente, sem poder exercer a profissão, vendo os cubanos trabalhando no lugar dos brasileiros.
Com a mudança de governo, surgiu a chance no Programa Mais Médicos. Não teve dúvidas em optar pelo lugar mais isolado de todos, a Aldeia Bona, no Parque Tumucumaque, a 7 mil quilômetros de casa, a 600 km da capital do Amapá, onde fica 20 dias totalmente sem contato com a família ou a civilização. Diz que estava determinado. Rapidamente superou a adaptação. Hoje ama o lugar, os indígenas. Foi aceito e é amado por eles.
Acidentes ofídicos, doenças gastrointestinais, dermatoses e gripes eram os procedimentos em que era mais requisitado a intervir, até a chegada da Covid-19. Sua área abrange 24 aldeias. Algumas delas só alcançando após uma semana de caminhada na mata. Em um ano de trabalho, antes da Covid, o mais difícil foi fazer um parto, no meio da aldeia, de madrugada, sem energia e sem comunicação. 
Somente numa emergência muito grave podia solicitar via rádio o apoio de aeronave do Ministério da Saúde ou da FAB (Força Aérea Brasileira).

Totalmente isolado

O lugar onde ele vive 20 dias,  totalmente isolado, depois volta para a capital do Amapá e fica 20 dias, é a Terra Indígena Parque de Tumucumaque e a Terra Indígena Rio Paru – último lugar habitado da Amazônia, alcançada num voo de 3 horas e meia sobre a inexpugnável Amazônia. Depois dali, são 600 km de mata fechada, até a divisa com o Suriname. Convive diariamente com etnias e idiomas diferentes dos povos 
Apalay, Tiryiós, Wayana, Waiãpi e Akuriyo. Cada aldeia tem um tradutor para assessorar seu trabalho. “Não me faz falta”, desabafa José Luis sobre um item considerado essencial para os jovens de sua idade: internet e redes sociais, até então inexistentes na região. Nos 20 dias em que fica isolado na reserva indígena, o único meio de comunicação à disposição do jovem médico prudentino é um sistema de radiocomunicação de emergência. “Já me acostumei a ficar sem a internet”. 
Assim que retorna a Macapá, após 20 dias, ele volta a ligar o celular e atualiza as mensagens, principalmente para falar com os pais que moram em Presidente Prudente. Contou que essa dificuldade começa a ser amenizada agora, com a chegada da internet via satélite, que está sendo implantada pelo governo, com placas de energia solar. “Sou muito grato ao apoio do governo, em especial do coordenador do Distrito Sanitário Especial Indígena Amapá e Norte do Pará, Roberto Wagner Bernardes”, assinalou.

(Todas as fotos dessa reportagem foram feitas no início do ano, antes da pandemia)

Olho redondo
Não teve dúvidas em optar pelo lugar mais isolado de todos, a Aldeia Bona, no Parque Tumucumaque

Fotos: Cedidas

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