Menopausa e andropausa designam o fim do período reprodutivo da mulher e diminuição da produção da testosterona no homem, respectivamente. São processos naturais, mas que podem trazer transtornos para ambos, em razão das alterações hormonais (e regulação) que levam a alterações corporais (ossos, músculos), funcionais e psicológicas. Hoje há profissionais vendendo “terapias antecipadas” (pessoas de 30, 40 anos) para essas alterações que, em média, acontecem aos 50 anos de idade. Isso é temerário.
MENOPAUSA
É a fase que marca a interrupção da ovulação da mulher, pois os folículos ovarianos (armazenam os ovócitos) já são poucos e perdem a função. A produção de estrógenos pelos ovários diminui significativamente, causando à Síndrome da Deficiência Hormonal, com diminuição das secreções vaginais, do volume das mamas, aumento da perda óssea (1-2% ao ano), do LDL-col (ruim) e diminuição do HDL-col (bom), aumentando o risco de doença coronariana e infarto. Sintomas comuns experimentados pelas mulheres a partir dos 50 anos são: fogachos, sensação de falta de ar, irritabilidade, fadiga, ansiedade e alterações psíquicas. Esses sintomas afetam negativamente a qualidade de vida de 15% das mulheres.
ANDROPAUSA
É o climatério masculino, marcado pela diminuição significativa da produção de testosterona. A produção diminui em média 0,5-1% por ano a partir dos 30 anos, porém na maioria dos homens, mesmo na senescência, a concentração da testosterona permanece dentro do normal, portanto acima do limite inferior. Apesar das relações sexuais cessarem antes dos 70 anos, a espermatogênese continua até os 80 anos. Alguns sintomas experimentados pelos homens a partir dos 50 anos são semelhantes aos das mulheres.
TRH
A terapia de reposição hormonal (TRH) em mulheres na menopausa é utilizada desde os anos 1960 e foi sendo aprimorada. Estudo publicado em 2002 (Women’s Health Initiative) na revista científica JAMA, com dados de 16,6 mil mulheres avaliadas de 1998 a 2002, assustou as usuárias de TRH e os profissionais de saúde. Foi relatado que a TRH aumentava o risco de doença coronariana e câncer de mama, enquanto diminuía o risco de osteoporose e câncer coloretal. Após novas análises foi divulgado que o risco amentava em mulheres mais velhas, com mais de 10 anos de tempo pós-menopausa. Hoje há consenso de que a TRH pode ser usada para mulheres saudáveis na perimenopausa (pouco antes) e início da menopausa (50-59 anos), mas apenas para aquelas com sintomas moderados ou severos. Pode reduzir o risco de doença coronariana, osteoporose e todas as causas de mortalidade.
A PAUSA
Homens e mulheres que usam hormônios esteroides (testosterona, estrógenos etc) aos 30-40 anos ativam o mecanismo fisiológico de “feedeback negativo”. O hormônio administrado é entendido como suficiente (em muitos casos, excesso) e os testículos e ovários pausam a produção interna. Com isso, a pausa que deveria ocorrer aos 50 anos ou mais é antecipada. Portanto, analise criticamente as promessas da medicina antienvelhecimento (anti-aging), integrativa, TRH, de modulação hormonal, ajuste de valores submáximos, para performance, ortomolecular e outras. Ser disciplinado com o estilo de vida ativo pode ser mais benéfico e menos arriscado.
O hormônio administrado é entendido como suficiente (em muitos casos, excesso) e os testículos e ovários pausam a produção interna.
Referências
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