Mercado voluntário de carbono

A mudança do clima é um assunto discutido anualmente pelos países-membros das Nações Unidas há pelo menos 30 anos. Hoje há quase uma unanimidade que vivemos uma crise climática. As exceções têm caído em descrédito uma a uma, sendo atreladas a interesses comerciais ou políticos, todas elas regadas a fartas doses de notícias fora de contexto. 
Na esteira dessa discussão, o papel dos mercados apareceu cedo, mais especificamente em 1997, com a assinatura do Protocolo de Quioto, que visava reduzir em 5% as emissões globais em relação aos níveis de 1990 até 2012. Entre as formas de implementação desse compromisso, estava o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, um caso clássico de busca de flexibilização e eficiência do comando e controle, com o uso do poder e agilidade do mercado. 
Seu legado em termos de redução de emissões foi pífio, mas a governança do tema, a priorização da agenda das nações, o nível de conhecimento acadêmico e técnico, todos evoluíram exponencialmente. Entre marés baixas, como a conferência de Copenhague, e altas, como a de Paris, a proposta de um novo mercado global vagou sem força, nem ambição. 
Mas enquanto as nações empurravam o problema e discutiam quem pagaria a conta, um movimento de baixo para cima se fortaleceu, inicialmente capitaneado pela sociedade civil organizada e, posteriormente, abraçado pela iniciativa privada – os mercados voluntários de créditos de carbono. Estes são movidos por todos os outros vetores de engajamento que não a regulação: reputação, acesso a mercados, análise de riscos, instinto de sobrevivência, licença social para operar, entre outros. 
Até que chegamos em 2020, com o mundo mais desigual do que nunca, com baixo crescimento econômico, dividido entre nações pró e contra imigração, entre pró e contra globalização, com notícias falsas ganhando eleições e líderes populistas movendo uma cruzada contra a ciência. Em um cenário já adverso veio a pandemia e, com ela, a receita perfeita para os Estados e também empresas adiarem qualquer acordo climático global, com a rota de aquecimento para além dos dois graus já consolidada.
 

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