Metainflamação e longevidade

Jair Rodrigues Garcia Júnior

Um pequeno corte na pele provoca inflamação local, uma batida forte da canela provoca inflamação, exercícios intensos e repetitivos causam microlesões musculares e provocam inflamação, infecções provocam inflamação. Essa condição eventual e transitória é crítica para proteção, sobrevivência e para reparação tecidual.

 

METAINFLAMAÇÃO
Porém, todos nós convivemos com uma inflamação sistêmica e crônica de baixo grau, a metainflamação. Significa que as moléculas inflamatórias não estão em locais específicos, mas sim circulando e de forma contínua. Essa metainflamação pode progredir para médio e alto grau. Mas atenção, a causa não é o glúten, açúcar, leite, a farinha branca ou óleos vegetais, como querem fazer acreditar os “especialistas das redes sociais”. Esses alimentos podem contribuir para aumentar o grau de inflamação quando consumidos “em excesso”, ou seja, fora do padrão de uma dieta saudável.

 

PRÓ-INFLAMATÓRIOS
O estilo de vida é o principal causador da metainflamação, especificamente o sedentarismo, a falta de prática de exercícios. O sobrepeso e a obesidade também são causadores, pois as células adiposas com maior volume de triglicerideos secretam mais moléculas inflamatórias. A disbiose (desequilíbrio da microbiota intestinal) também é crítica, junto com o consumo elevado de gorduras saturadas (animais). A dieta “americanizada” farta em alimentos ultraprocessados, fast food, lanches ricos em gordura animal (carnes, calabresa, queijos, molhos etc), doces ricos em gordura e açúcar, e pobre em vegetais é um fator negativo. Distúrbios do sono, variações do ritmo circadiano (sono e vigilia), infecções crônicas, tabagismo (ativo e passivo), químicos industriais e ambientais e estresse também são negativos.

 

ACELERADORA
A metainflamação acelera o envelhecimento, pois provoca as doenças que mais causam mortes no mundo, as cardiovasculares e cerebrovasculares, além de câncer, diabetes, síndrome metabólica, insuficiência renal crônica, figado gorduroso não alcoólico, doenças autoimunes, neurodegenerativas e mentais, como a depressão. Cada uma dessas doenças leva a desgastes fisiológicos e psicológicos adicionais, resultando em desequilíbrios incompatíveis com a qualidade de vida e longevidade.

 

PROGRAMAÇÃO MATERNA
Muitos dos adultos de hoje e, provavelmente a maior proporção dos adultos daqui a duas a três décadas, têm e terão marcas epigenéticas que os tornam propensos à metainflamação. Desde o ambiente uterino o feto pode ser exposto, por intermédio do estilo de vida e hábitos da mãe, aos fatores positivos (anti-inflamatórios) ou negativos (pró-inflamatórios), os quais ficam programados e marcados em seus genes (imprinting). Quando adolescente e adulto o indivíduo convive com a constante propensão de ter estilo de vida sedentário, preferir dieta não saudável, se tornar obeso, ter a metainflamação e outros desequilíbrios e doenças.

 

ESCOLHAS E EXPOSIÇÃO
O ambiente em que vivemos pode ser bastante tóxico e desafiador com suas numerosas tentações. Cabe a cada um fazer escolhas e administrar a exposição diária. As escolhas são tão mais certeiras e amenas no sentido de priorizar a saúde, qualidade de vida e longevidade quando nos cercamos e convivemos com semelhantes com os mesmo valores e objetivos.

 

Jair R. Garcia Jr. é Fisiologista da saúde (ICB-USP) e professor da Unoeste. jgjunior44@hotmail.com ­ Instagram: @exercicionutri

 

A metainflamação acelera o envelhecimento, pois provoca as doenças que mais causam mortes no mundo, as cardiovasculares e cerebrovasculares.

 

 

Referências

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