Entre meados dos anos 80 e início da década de 90, trabalhei com Saulo Gomes na Assessoria de Imprensa da Companhia de Engenharia de Tráfego, a empresa que cuida do trânsito paulistano, conhecida pela famosa sigla CET, que teve o nome trocado para PLAT (Planejamento de Trânsito) pelo então prefeito londrino de São Paulo, Jânio Quadros.
A sigla PLAT não emplacou. Ainda bem que não deu certo e a empresa de economia mista voltou a se chamar CET.
Tímido, voz mansa de monge e sempre bem vestido de terno e gravata, não sei se era gravata confeccionada em Gravataí ou Gravatá, Saulo tinha bom relacionamento com os jornalistas da assessoria e com os outros funcionários.
Era simpático e conversava com todos que vinham ao seu encontro também porque ele era um repórter famoso por causa da participação em programas populares da televisão.
Saulo Gomes tinha histórias de sobra para contar. Falava dos bastidores da televisão com desenvoltura e, claro, o pessoal prestava atenção. Ele atuou como repórter do programa “Pinga Fogo” na TV Tupi, em São Paulo. Teve um “Pinga Fogo” histórico, em 1971, apresentado pelo jornalista Almir Guimarães.
Foi aquele que entrevistou ninguém menos do que o médium Chico Xavier, um homem que tinha presença de espírito, segundo a definição espirituosa - e simpática - de Millôr Fernandes. Auditório mais lotado do que fila de desempregados na atual conjuntura, onde urubu voa na vertical.
Saulo Gomes circulava em todos os cantos para ouvir as perguntas do público endereçadas ao Chico.
Anônimos e famosos misturavam-se no auditório. Entre os famosos identifiquei, no vídeo do YouTube, os jornalistas Vicente Leporace e Freitas Nobre. Soube depois que o Freitas Nobre, que foi deputado, era espírita e parece-me que o Saulo, grande amigo do Chico, também era. Não sei se o Leporace também era. Só sei que os dois fazem uma falta danada.
Evidente que um repórter do quilate do Saulo Gomes também faz falta. Ele também era um sedutor e, sobre isso, contou-me histórias picantes que não se contam nem em Piccadilly. Esse negócio de "histórias picantes" pode até soar meio estranho, mas é por aí mesmo, meus caros e minhas caras.
No tempo em que ele esteve na CET, nunca alterou a voz ou gritou com alguém. Aliás, sou capaz de apostar que ele nunca deu um grito enquanto esteve neste insensato mundo do qual partiu para o lado do mistério aos 91 anos e alguns meses. Boa gente o meu amigo Saulo Gomes, um cidadão do bem.
DROPS
Abreviar a vida com suicídio é interromper o que já é breve (sim, a vida são breves momentos, como dizia Alvarenga Peixoto).
Edir Macedo, de fato, não tem nada a perder, a menos que haja uma debandada de dizimistas em sua igreja.
Era um astrônomo tão eficiente que encontrava estrelas até no céu da boca.
No caso de mau hálito, o céu da boca vira o inferno da boca.