Pé na estrada. Mais um caminho de volta para casa. Tenho a sensação de que alguém chamou o meu nome, mas preciso cortar caminhos entre memórias e sonhos. O coração pulsa ao ritmo cadenciado da incerteza, no tempo que não sou de ninguém e ninguém é meu.
Ligo o rádio. É Vander Lee. “Já fui pedra, hoje sou estrada”. As árvores que margeiam a Castelo Branco parecem curvar-se em reverência ao peso das emoções. Luz do Sol se filtrando pelas nuvens convida seus observadores a mergulharem em suas formas e texturas, como se uma sombra tênue cobrisse os contornos do mundo. Uma a uma, as estrelas surgem timidamente, pontilhando o firmamento com seu brilho cintilante, parceiras de um baile etéreo, como se dançassem ao som de uma música cósmica que somente elas podem ouvir.
Cada lágrima, cada sorriso, cada emoção. É como se o tempo desacelerasse (por que nunca chego?), criando uma pausa no ritmo frenético da vida cotidiana... um hiato entre o que fui (palestras, pautas, minutas, ofícios) e o que está para acontecer lá do outro lado do destino (pé na terra, bons livros e chamego). “Já fui triste, hoje sou saudade”.
Cada passo é uma página virada. Paramos no lugar de sempre. Lá no meio do caminho, onde sussurram segredos ao vento, histórias ancestrais que ecoam em suspiros. Acendemos velas nas capelas e santuários encontrados pelo caminho. Encantam-me a fé dos caminhoneiros nas estradas áridas das noites escuras. Uma confiança inabalável no destino e na proteção divina desde os pequenos gestos, como o terço pendurado no retrovisor, as orações murmuradas ao amanhecer e o agradecimento silencioso a cada quilômetro percorrido em segurança. Salve São Cristóvão, Santa Bárbara, Nossa Senhora Aparecida!
Final da estrada grande. Curva acentuada à direita e seguir em frente. Agora é a velha Raposo Tavares travestida de moderna. No asfalto novo sobre trilhas antigas do cansado Planalto do Paranapanema adentro a região de Ourinhos com suas colinas suaves e manchas de terra roxa cultivadas de soja, milho e algodão. Rio Pardo. Córrego da Água Quente. Córrego do Ferro Velho. Córrego do Capão Bonito e do Canhoto. Estou perto de Rancharia! Mário Sérgio fez aniversário outro dia... Ele estará bem? Encontro nas lutas, na música, na sala de aula.
Luzes de uma cidade aqui. Luzes de outra cidade acolá. Pronto... Desponta na linha do horizonte a “Princesinha da Sorocabana! “Sabe o que eu mais quero agora, meu amor? Morar no interior do meu interior”.