Milieu intérieur da saúde

Jair Rodrigues Garcia Júnior

Músculos quase não têm câncer! Os músculos contêm células satélites que se diferenciam (se transformam) em fibras musculares, porém é raro que se tornem células neoplásicas (tumorais). Os casos de Rabdomiossarcoma (câncer do músculo) têm prevalência muito baixa em comparação a outros tipos de cânceres. Por que?

MILIEU INTÉRIEUR
A função celular, de maneira geral, depende do equilíbrio das moléculas, íons e da água no interior e fora das células. Depende da manutenção da temperatura, do pH e da concentração dos íons e molélulas. Esse equilíbrio do Milieu intérieur (meio interno) recebe o nome de homeostase. Em razão de sua importância, é o primeiro conceito aprendido na fisiologia pelos estudantes da área de saúde.

SECREÇÕES
O Milieu intérieur se refere ao sangue e ao líquido extracelular (LEC). É o meio pelo qual chegam até as células os íons e várias moléculas, tanto as externas consumidas na alimentação, suplementação e medicamentos, quanto as moléculas internas produzidas pelas células, tais como  hormônios, proteínas, moléculas nitrogenadas e lipídicas.

ALTERAÇÃO
Obviamente, o Milieu intérieur não permanece equilibrado e estável 100% do tempo. Condições como a alimentação, o jejum, estresse, exercício físico etc, provocam alterações na produção de hormônios e outras moléculas que são liberadas no meio interno e chegam até as células. A saúde está em ordem quando os sistemas fisiológicos são aptos a reequilibrar o Milieu intérieur e não há interferência na função celular. 

EXERCÍCIO FÍSICO    
Como já mencionado em outros textos, os músculos produzem proteínas – as miocinas – que regularam o funcionamento dos próprios músculos e de outras células. Essa miocinas circulam no Milieu intérieur, alteram o ambiente extracelular e intracelular, alterando processos bioquímicos anabólicos e catabólicos, por exemplo. São proteínas que tornam o ambiente benéfico para as células, mas parecem atuar como “armas” contra células tumorais.

CÂNCER DO PULMÃO
Estudo publicado na revista Cancers, em 2017, descreve um experimento no qual 10 adultos jovens e fisicamente ativos realizaram uma sessão de ciclismo de alta intensidade (6 tiros de 1 min, com 1 min de recuperação ativa em baixa intensidade). Nos períodos pré-exercício, 5 min, 1 h e 24 h pós-exercício foi coletado sangue e separado o soro. O soro dos diferentes tempos foi colocado em diferentes placas com meio de cultura onde estavam células de câncer de pulmão.

INIBIÇÃO E MORTE
No período de incubação com o soro do sangue retirado pós-exercício foi observada inibição de 90%, em média, da proliferação das células de câncer. Quando foi usado o soro retirado pré-exercício não houve qualquer efeito. O soro retirado pós-exercício também diminuiu a taxa de sobrevivência das células de câncer para apenas 22%, ou seja, preciptou a morte das células. A conclusão foi que o exercício induz a produção de moléculas (ex. irisina e SPARC) com propriedade anti-câncer. Algo semelhante já havia sido observado com células de câncer de mama e próstata.

 

 O soro do sangue retirado após o exercício provocou inibição de 90%, em média, da proliferação das células de câncer.


 

Referências
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