Mistérios da noite

OPINIÃO - Raul Borges Guimarães

Data 09/04/2023
Horário 05:00

Escrevo as minhas crônicas semanais quase sempre depois da chamada hora grande. A hora que o sol está mais distante de nós e que a mente parece estar mais aberta para experiências com o mundo mais distante. Talvez seja por isso que a meia-noite é, frequentemente, associada a mistérios, segredos e enigmas. 
Perto de casa mora uma coruja, um ser que guarda muitos mistérios dos ambientes com pouca luz. Não é por acaso que ela mantém os olhos bem abertos e grandes, vigilante e atenta aos barulhos da noite. Na mitologia grega, a coruja era o animal sagrado de Atena, e representava a inteligência e a capacidade de enxergar através da escuridão. 
Lá longe um galo canta, sempre lembrando da negação de Pedro e de outras consciências e arrependimentos. Alguns cachorros ladram, como se quisessem alertar uns aos outros acerca da passagem de transeuntes perdidos por bocas e vielas da cidade. Há também muitos sons noturnos que não posso identificar ou entender completamente. Seria um automóvel muito distante, cujo ruído chega misturado com a força do vento? Teria a noite o poder de transportar as vozes dos amigos se divertindo nos bares dos arredores?
Eu aqui de frente da tela do computador não estou só. Pensei naqueles que fazem do trabalho noturno seu ganha pão. Vigias, porteiros e seguranças dos condomínios e das residências dos bairros mais abastados. Os motoristas de caminhão que se aventuram pelas estradas do Brasil afora e que conectam a nossa cidade com diferentes regiões do país. E as enfermeiras e enfermeiros que varam noite adentro nos plantões dos hospitais, percorrendo quarto por quarto dos pacientes. Temos também os bombeiros e os policiais que trabalham em regime de plantão para atender as emergências que podem ocorrer a qualquer hora da noite. Um acidente, uma situação de conflito, um desafio desconhecido. Vamos juntos pela jornada da noite! No dizer do poeta: “Somos a nossa bruma...É para dentro que vemos... Caem-nos uma a uma as compreensões que temos. E ficamos no frio do universo vazio....”.
Daqui a pouco o sol começa a despontar gradualmente no horizonte, iluminando gradualmente o céu e criando uma transição do escuro para a luz do dia. As experiências dos guias da noite se calam e abrem os caminhos da renovação e do renascimento. É quando o dia mundano se inicia e precisamos estar preparados e com vitalidade para aproveitar esse novo dia que está por vir. Não é por acaso que na ioga há uma prática conhecida como “surya namaskar” (saudação ao sol), que envolve uma série de movimentos e posturas em homenagem ao sol nascente. Bom dia!
    
 

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