Musculação ou aeróbico: o que treinar primeiro?

Jair Rodrigues Garcia Júnior

Você que frequenta academia provavelmente já teve essa dúvida e também já ouviu algumas opiniões divergentes de outros praticantes e profissionais de educação física, a respeito da ordem do treinamento concorrente (dois tipos de treinamento na mesma sessão). Estão envolvidos aspectos metabólicos, fisiológicos, de objetivos específicos, de padrões adotados pela academia ou personal trainer e a preferência pessoal.

AERÓBICO
O treino aeróbico de 20 min ou mais na esteira, bike, outros ergômetros ou aulas tem a finalidade de melhorar o metabolismo aeróbico dos músculos e a capacidade do sistema cardiorrespiratório. Aumentando a eficiência do coração, quantidade de hemácias no sangue, quantidade e tamanho das mitocôndrias nos músculos, das enzimas de oxidação dos carboidratos e das gorduras etc, melhora a capacidade de usar o O2 para produção de energia e o desempenho. As capacidades funcionais para as atividades do dia a dia melhoram, assim como a capacidade para participar em competições, tais como corridas de rua e outras. 

FORÇA
A força dos músculos tem uma relação direta com o risco de mortalidade, principalmente dos idosos, mas também com adultos jovens quando sofrem de alguma doença e trauma que exijam internação. Estudos sobre a força dos músculos das pernas e antebraços (preensão manual) e mortalidade estão consolidados na literatura. A força deve ser trabalhada com o próprio peso corporal e com sobrecargas das barras e dos aparelhos. As sobrecargas devem ser proporcionais e progressivas para obtenção dos melhores benefícios.

RESISTÊNCIA MUSCULAR LOCALIZADA (RML)
É a capacidade de realizar dezenas de repetições de um exercício com o peso corporal ou sobrecarga de pesos, usando um ou mais músculos. É uma forma de condicionamento dos músculos útil para algumas atividades do dia a dia e essencial para participar em competições de diferentes esportes. A RML é trabalhada com sobrecargas leves ou médias, alternando com o treino de força, no qual se usa sobrecargas pesadas. A RML pode ser trabalhada na musculação e no levantamento de peso olímpico (LPO).

FONTE DA ENERGIA
Na parte de corrida, bike ou degrau de seu treino é utilizado predominantemente o metabolismo aeróbico, ou seja, dependente de O2 para oxidar glicose e gordura. Há melhora da resistência para exercícios de longa duração com intensidade leve ou média. Na parte de musculação de seu treino, para força ou resistência muscular localizada (RML), é utilizado predominantemente o metabolismo anaeróbico, que transforma a fosfocreatina e glicose em energia sem qualquer dependência do O2. Em princípio, fazer musculação e depois o aeróbico ou aeróbico e depois musculação não gera prejuízo para o treino realizado ao final.

ORDEM DOS EXERCÍCIOS
Treino aeróbico e de força representam situações de estresse físico, fazendo com que sejam secretados hormônios catabólicos, que estimulam a quebra de glicogênio, gordura e proteínas. Ambos também provocam a produção de metabólitos nos músculos, sendo o principal o lactato, de acordo com o tipo de exercício e intensidade. Para todas as pessoas que frequentam academia com objetivo de saúde, a “ordem dos fatores não altera o produto”, ou seja, os benefícios do treinamento. A recomendação é alternar a ordem a cada dia ou semana para os músculos não se acomodarem com a rotina.

PRIORIDADES
A prioridade é determinada pela especificidade exigida. Para corredores, a musculação é um acessório importante, mas a prioridade é a corrida, portanto essa deve ser realizada em primeiro. A musculação pode ser realizada após, em outro horário ou dia. Por outro lado, quando o objetivo é a hipertrofia muscular, a musculação com sobrecargas pesadas deve ter prioridade e ser realizada em primeiro com os pesos maiores para a força e o ganho de volume muscular. O exercício aeróbico pode ser realizado depois ou em outro horário. Entenda sua prioridade. 


Para pessoas que frequentam academia com objetivo de saúde, a “ordem dos fatores não altera o produto”, ou seja, os benefícios do treinamento.


Referências

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Huiberts RO, Wüst RCI, van der Zwaard S. Concurrent Strength and Endurance Training: A Systematic Review and Meta-Analysis on the Impact of Sex and Training Status. Sports Med. 2024; 54(2): 485-503. http://dx.doi.org/10.1007/s40279-023-01943-9 

Schlegel P. CrossFit® Training Strategies from the Perspective of Concurrent Training: A Systematic Review. J Sports Sci Med. 2020; 19(4): 670-680. https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC7675627/ 

Schumann M, Feuerbacher JF, Sünkeler M, Freitag N, Rønnestad BR, Doma K, Lundberg TR. Compatibility of Concurrent Aerobic and Strength Training for Skeletal Muscle Size and Function: An Updated Systematic Review and Meta-Analysis. Sports Med. 2022; 52(3): 601-612. http://dx.doi.org/10.1007/s40279-021-01587-7 


 

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