Tenho mania de navegar pelos mapas do meu Atlas Geográfico favorito. Ele é feito de papel e encontra-se com destaque na minha prateleira de livros. São vários tipos de mapas reunidos num caderno grande de capa dura e ousadas representações gráficas. Abro aleatoriamente suas páginas. Da metade para frente, do final para o começo. Planisférios, mapas continentais, cartas regionais. Por que sempre desemboco meu olhar na imensidão do rio Amazonas? Ora navego pela margem esquerda, ora pela margem direita. Busco detalhes de trechos à montante. E repito o procedimento à juzante. Pouco importa. Afinal, na “Pachamama” não há fronteiras, o que torna difícil imaginar o conjunto de pequenos cursos d’água que se juntam lá nos Andes para formar o imenso mundo aquático do Amazonas!
Quantas vidas se confundem com os percursos dos rios? As primeiras civilizações surgiram nas margens dos rios: na Mesopotâmia, às margens dos rios Tigre e Eufrates; no vale do Rio Nilo (seria o Egito sua dádiva?); no vale do Rio Indo e nas planícies chinesas banhadas pelos rios Azul e Amarelo. São das margens desses grandes rios as primeiras obras de engenharia para a canalização das águas fluviais, o que tornou possível o abastecimento de água nas casas das cidades e, principalmente, a irrigação das lavouras. Além do uso agrícola dos vales fluviais, há muitos séculos os rios servem de vias de circulação. Quais segredos escondem as curvas do Mississipi ou as ramificações dos canais criados a partir do rio Reno e de seus belíssimos castelos erguidos na França e na Alemanha?
Bom mesmo é sentar na beira dos rios com os pés descalços mergulhados nas águas. Deixar fluir os pensamentos como os pequenos gravetos arrastados pela correnteza sabe-se lá até onde. E libertar-se da antropomorfia para vivenciar outras formas de existir, como nos ensina Ailton Krenak. Para ele os cursos d’água são capazes de percorrer longas distâncias, “de mergulhar dentro da terra e - por que não? - de voar” por dentro das nuvens!
Apesar do Brasil seguir exportando água em seus grãos, ou afogando os seus rios com as represas construídas para gerar energia, os rios são capazes de encontrar novos caminhos até despejarem suas águas diretamente ou indiretamente no mar. Salve o Amazonas, o São Francisco, o Tocantins, o Guaraguaçu e o Parnaíba! Eles me fazem escutar a voz do pensador indígena: “o futuro é ancestral porque já estava aqui”! E, assim, inicio um novo ciclo aqui nas terras das nascentes, do olho d’água dos córregos pequenos onde enterrei meu umbigo.
