Escrever semanalmente para o jornal de domingo tornou-se uma prática cotidiana. Muitas vezes o texto produzido busca matéria-prima nas reminiscências da viagem de retorno da capital paulista. Mas o ato de escrever, geralmente, é um exercício de retorno às minhas raízes, deixando para trás as cenas marcantes vividas na pauliceia desvairada. Elas vão cedendo lugar para passagens que marcaram a minha relação com as crianças ou com os mais velhos, os conflitos intergeracionais, viagens inesquecíveis, lugares especiais. Diante da janela do meu escritório, imagino as experiências sensoriais no contato com a chuva, o vento. Ah, e o prazer de colocar os pés na areia da praia, então? Observar o curso do rio, a força da natureza, o pulsar da vida em qualquer canto.
Nesse percurso narrativo, impresso na folha do jornal, aos poucos, fui recebendo notícias do outro lado. Daquele que se coloca na posição do leitor das crônicas que escrevo. E foram surgindo novas amizades mantidas à distância. Eduardo Oliveira é o melhor exemplo desses amigos leitores. Imagino ele folheando o jornal no domingo de manhã, talvez com uma xícara de café ao lado, e a leitura atenta da nova crônica. Sempre que possível, Eduardo me envia mensagens, complementando a minha escrita com sua próprias experiências. É sempre muito divertido conversar com ele, tornando o ato de ler e escrever um processo único. Afinal, a escrita somente se completa na leitura do outro, no diálogo que se estabelece entre o escrito e o lido. Cumpre-se o papel social da crônica ali impressa no jornal.
Tenho descoberto muitos outros leitores pelas ruas da cidade. Seja num café, fazendo compras no mercado, numa conversa descontraída em alguma festa, descubro novos leitores. Ana Cecília Nogueira, Roberto Tomiazi da Focus Assessoria Contábil, Regina Penati e muitos outros cidadãos prudentinos que mantêm o hábito de leitura do jornal impresso.
Mas esse universo da leitura não fica por aqui. Como o jornal possui sua versão digital, o texto tem percorrido circuitos inimagináveis e fortalecido laços antigos. Destaco o amigo João Carlos, que vive na minha querida Uberlândia. Ele nunca deixa de fazer algum comentário ou curtir e compartilhar o texto com outros amigos. Outro dia descobri que até Helena Calai, a grande educadora lá da pequena cidade gaúcha de Ijuí, não perde uma leitura semanal. A realidade vivida é a base da leitura e da escrita. Todo mundo aprende na relação com os outros, na aproximação do texto escrito com o conhecimento do outro. E assim seguimos, vocês lendo, eu escrevendo. O domingo ganha novos sentidos a cada página.