Nova proposta do Sisu cria debate entre docentes

Modalidade prevê transferência de alunos de instituições privadas para públicas, com objetivo de suprir vagas remanescentes

PRUDENTE - IZABELLY FERNANDES

Data 07/10/2018
Horário 04:29
Arquivo - Com a iniciativa, prevista para 2019, universitários poderão migrar do ensino privado para o público
Arquivo - Com a iniciativa, prevista para 2019, universitários poderão migrar do ensino privado para o público

O MEC (Ministério da Educação) estuda a criação de uma nova modalidade do Sistema de Seleção Unificada, chamada Sisu Transferência. A iniciativa, que está com aplicação prevista em 2019, é voltada para estudantes que já cursam o ensino superior privado e querem migrar para o ensino público, como forma de preencher vagas ociosas das instituições. No entanto, a proposta está gerando divergências entre as opiniões de docentes. Eles dizem que os benefícios são relativos, pois dependem de vários fatores, como as situações acadêmicas dos alunos; uniformidade de grades curriculares; incentivo aos estudantes, com a valorização de profissões principalmente ligadas às áreas de licenciatura; e melhores investimentos na infraestrutura das instituições.

Para o docente da Unoeste (Universidade do Oeste Paulista), Rogério Silva, essa novidade não sanaria o problema das vagas ociosas por completo, pois a variação das grades curriculares de uma universidade para outra acaba desmotivando alguns alunos. “Se os estudantes forem do primeiro termo, até daria certo, mas nos termos mais avançados, eles ficariam um pouco confusos”, pontua. O professor fala que a ideia é interessante, mas é necessário discutir sobre a manutenção das universidades que se encontram negligenciadas. “A gente ouve estudantes reclamarem da falta de verba para o progresso das instituições públicas. É necessária uma infraestrutura adequada para suprir as expectativas dos alunos quanto ao ensino, para que se sintam motivados”, explica.

De acordo com o professor da FCT/Unesp (Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista), Silvio Rainho Teixeira, para uma transferência de sucesso, é preciso ver o nível do aluno, pois grande parte deles acaba desistindo por não conseguir acompanhar o curso. “Se o estudante vier com uma base ruim, não vai conseguir acompanhar o ritmo da instituição e vai resultar em evasão novamente”, afirma. No entanto, ele avalia a iniciativa como uma boa resolução para salvar cursos prestes a serem fechados. “Se os cursos não possuem alunos, o governo entende que eles não têm justificativa para permanecerem ativos na universidade e acabam sendo fechados”.

Já para o docente, Deuber Lincon da Silva Agostini, que também atua da FCT/Unesp, o projeto será um auxílio para abertura de vagas nas unidades, além do processo seletivo que já existe em alguns universidades. “Há casos de cursos que acabam formando apenas cinco alunos por turma na nossa universidade. Isso ajudaria com este problema, além de aproveitar melhor o dinheiro público”, declara.

Pública x privada

O sistema que garante o acesso às universidades é considerado demasiadamente exigente, produzindo uma alta concorrência nas vagas e fazendo com que os mais ricos acessem ensino público e os mais pobres dependam de programas de financiamento estudantil ou bolsas de estudo. Rogério fala que o vestibular é um prova excludente, pois cobra um ensino que a maioria dos alunos de escolas públicas não tem. Por isso, ele diz que a iniciativa do Sisu apenas “queima” a etapa do vestibular, mas não resolve o problema do acesso dos mais pobres ao ensino superior público.

Ele diz que a maioria do número de vagas ociosas está nos cursos de licenciatura, pois os jovens estão desinteressados da docência devido à baixa perspectiva de trabalho e renda. “Os jovens de maior renda continuam a procurar os cursos tradicionais de Medicina, Engenharia e Direito. Por isso, as licenciaturas são deixadas de lado.” O professor fala que essa novidade do Sisu pretende atrair os alunos, mas não busca valorizar determinadas profissões deixadas de lado pelos alunos, como meio de motivá-los.

SAIBA MAIS

O sistema do Sisu Transferência funcionará como o convencional, selecionando os estudantes com base do desempenho do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio). Como são vagas abertas ao longo do curso, será ofertado somente para os estudantes do ensino superior de instituições particulares ou outras instituições públicas. Mais detalhes sobre as regras de funcionamento e se ele entrará em vigor no primeiro ou segundo semestre ainda não estão definidos. A adesão das universidades será voluntária.

 

 

 

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