Novas alternativas de transporte derrubam fluxo em mototáxis pela metade

De acordo com profissionais do segmento, conforto e segurança dos carros levaram clientes a adotarem os aplicativos de transporte

PRUDENTE - ANDRÉ ESTEVES

Data 01/09/2018
Horário 05:59
José Reis - Mototaxistas afirmam que caiu pela metade a procura pela moto
José Reis - Mototaxistas afirmam que caiu pela metade a procura pela moto

Até a chegada do Uber em Presidente Prudente, em março deste ano, o mototáxi era a principal opção de clientes que buscavam um meio de locomoção rápido e econômico. A operacionalização dos aplicativos por transporte individual, no entanto, não só ampliaram as alternativas do público, como aumentaram a concorrência entre os prestadores do serviço e pulverizaram suas demandas. Ainda que os preços praticados por mototaxistas sejam quase semelhantes aos do Uber, por exemplo, profissionais do segmento afirmam que caiu pela metade a procura pela moto, uma vez que as pessoas ainda preferem se locomover com o carro em função do conforto e da maior segurança, sobretudo, durante o período noturno, quando os pedidos nas centrais de mototáxi ficam ainda menos frequentes.

Há dois anos no ramo, o mototaxista Wanderson da Costa Freitas, 36 anos, nunca enfrentou uma maré tão baixa quanto neste ano. Antes dos aplicativos de transporte chegarem ao município, ele costumava fazer mais de 20 viagens por dia, sendo que, atualmente, não ultrapassa dez corridas. O que salva o trabalho são os clientes fidelizados, mas até mesmo estes estão migrando para o Uber por conta da promessa de preços mais acessíveis.

O que Wanderson não entende é como os motoristas do aplicativo conseguem fazer a sua renda, já que 25% do seu faturamento com as viagens são repassados para a empresa. “Se um trajeto daqui ao centro sai por R$ 8, sobra muito pouco para o condutor”, expõe. Para competir “pau a pau” com o novo serviço de transporte, ele conta que os mototaxistas até estudaram lançar um aplicativo nos mesmos moldes, mas perceberam que o uso seria inviável. “Não dá para ficarmos com o celular na mão, porque os guardas de trânsito descem a caneta”, argumenta.

Com 20 anos de ofício, o mototaxista Antônio Marcos Moura, 46 anos, também sente uma queda de 50% na demanda diária, o que implica diretamente na sua renda familiar. Desde então, já precisou até mesmo recorrer a empréstimos bancários para conseguir pagar suas contas. Enquanto o tempo de “vacas magras” não chega ao fim, ele decidiu direcionar todo o seu faturamento para as despesas básicas e alimentação e abrir mão de novas dívidas. Além disso, investe o tempo remanescente do seu dia na realização de bicos.

Enquanto conversava com a reportagem, Antônio apontou o caderno de anotações na central onde trabalha. A relação de pedidos apontava 12 corridas, quando já deveria ter se aproximado de 40, considerando o número de mototaxistas que ali trabalham. “Aqui, continuamos em oito, mas já ouvi falar de lugares onde os profissionais estão trocando a moto pelo carro e se cadastrando no Uber”, ressalta.

O mototaxista Júlio Correia Evangelista Neto, 38 anos, relembra que conseguiu erguer sua casa só com o lucro que obtinha com o serviço, ao passo que já não teria o mesmo sucesso hoje. Ele explica que, ainda que o valor da moto seja R$ 2 mais barato do que uma corrida pelo Uber, as pessoas preferem o carro devido ao conforto que oferece. “Entretanto, ainda ganhamos na agilidade. Quando os clientes estão com muita pressa, optam pegar uma moto para chegar de forma mais rápida aos seus destinos”, comenta.

Tendo em vista que trabalha em uma central de bairro, denota que os moradores das imediações continuam recorrendo ao local em virtude dos vínculos de confiança estabelecidos. “No centro da cidade, contudo, os mototaxistas devem estar em uma situação complicada, pois não há essa fidelização de bairro”, considera.

“Não vai longe”

O representante dos mototaxistas, Vicente dos Santos, por sua vez, afirma não ver os aplicativos de transporte individual como uma ameaça, já que desconfia da sua permanência na cidade. Isso porque, segundo ele, os preços praticados pelo Uber não cobrem todas as despesas dos motoristas com reparos, manutenção e abastecimento dos veículos. “A oficina já é cara para a moto, quem dirá para um carro”, avalia.

Em sua opinião, esse tipo de serviço funciona melhor em São Paulo, onde o motorista acionado está muito próximo do cliente que pediu a corrida, justamente pelo alto número de solicitações registrado a todo momento. Enquanto isso, em Prudente, os condutores frequentemente precisam se deslocar de uma zona a outra para encontrar o passageiro. “Sem falar que as motos continuam tendo a vantagem de serem mais rápidas. Fazemos pela metade do tempo que um motorista de carro leva para chegar a determinado destino”, diz.

O presidente do Sindicato dos Taxistas, Caminhoneiros e Transportadores Autônomos de Passageiros de Presidente Prudente e Região, Natal Aparecido Brunholi, também observou um recuo de 30% a 40% na utilização do táxi. A seu ver, a prestação do serviço foi “defasada” pela “concorrência desleal” do Uber, o que deve ser revertido com a regulamentação do aplicativo pela administração municipal, obrigando os motoristas a fazerem o devido credenciamento junto à Semav (Secretaria Municipal de Assuntos Viários e Cooperação em Segurança Pública). “A partir de 1º de outubro, certamente o número de cadastrados no Uber cairá muito, pois a medida restringe o uso a veículos emplacados na cidade”, pontua.

Publicidade

Veja também