É inadmissível que, em pleno século 21, a sociedade ainda se depare com episódios de crueldade e descaso contra animais. O caso registrado em Pirapozinho, nesta semana, evidencia de forma chocante a gravidade do problema e a urgência de tratá-lo como uma pauta de responsabilidade coletiva.
A Polícia Civil instaurou um inquérito para investigar a prática de maus-tratos em uma residência da Vila Ideal, onde dois cães foram encontrados em condições deploráveis. Um pitbull, visivelmente debilitado, apresentava magreza extrema, ferimentos espalhados pelo corpo e sinais de idade avançada. Ao seu lado, um outro animal, sem raça definida, mostrava-se assustado, reflexo de um ambiente de abandono e negligência.
O cenário descrito pelas autoridades é perturbador: ausência de alimentos, água inacessível ao cão mais fragilizado, quintal tomado por fezes e entulhos. A denúncia anônima foi essencial para que a situação viesse à tona, revelando que os animais estariam sozinhos há pelo menos 15 dias, com a suposta responsabilidade de alimentação atribuída a uma vizinha que sequer foi localizada.
Ambos os cães foram resgatados e encaminhados à S.O.S. Animais para avaliação veterinária, em mais um esforço conjunto que envolve sociedade civil e poder público. A Vigilância Sanitária também deverá atuar no caso, que agora seguirá para responsabilização penal do tutor.
A crueldade contra animais não pode ser relativizada nem tratada como algo menor. Trata-se de um crime previsto em lei, que revela não apenas a incapacidade de um indivíduo de zelar por vidas indefesas, mas também uma ferida ética que atinge toda a comunidade.
Casos como este exigem reflexão profunda: até quando será necessário recorrer à Justiça para lembrar que os animais são seres sencientes, capazes de sentir dor, fome e medo? A omissão diante de situações assim é conivência. E se a legislação existe, cabe a todos, autoridades, vizinhos, cidadãos, fiscalizar, denunciar e agir.
O episódio de Pirapozinho precisa servir de alerta. Não se trata apenas de punir um tutor negligente, mas de reafirmar um compromisso social inadiável: maus-tratos a animais são uma afronta à dignidade humana e não podem mais ser tolerados.