O balão

OPINIÃO - Thiago Granja Belieiro

Data 23/08/2025
Horário 04:30

Estive, anteontem, talvez tenha sido antes disso, não posso precisar ao certo, voando em um balão, desses, para turistas, que agora, nos tempos atuais, pululam pelos ares do país. Colorido, enorme e suntuoso, que poderia ser até extravagante, a depender do olhar. O cesto, contudo, era pequeno e modesto, e nele, voavam eu, meus gatos e o piloto. Não sei e talvez não possa explicar o real motivo de meus gatos estarem presentes nessa aventura. O fato é que aconchegaram-se em meus pés e pareciam bem tranquilos. 
Decolamos a partir dos campos do interior paulista, de um sítio, cuja paisagem, artificialmente produzida pela ação humana, por décadas, parecia bela, com campos de cultivo distribuídos de forma assimétrica, ao sabor das ondulações do terreno, das curvas de nível e das culturas. Ao longe era possível ver plantações de eucalipto, cana de açúcar e o gado, que como pontos brancos no tapete verde, pastavam na sua tranquilidade costumeira. O vento era fraco, e soprava do sul, trazendo refresco, pouca velocidade e uma certa direção ao balão. 
O voo, aparentemente, transcorria bem e minha avaliação vinha da suavidade e do silêncio que podíamos apreciar naqueles instantes. O piloto, por sua vez, tinha semblante tranquilo e parecia bastante hábil, concentrado nas suas atividades. Eu apenas apreciava a vista, apesar do meu severo medo de altura, curiosamente, ausente naquela ocasião. Os gatos, que vinham tranquilos, mudaram seu comportamento, logo após termos ultrapassado certa altura, que eu julgava ser de pouco mais de mil pés. Levantaram-se, de imediato, ficando agitados, miando e roçando minhas pernas, de modo que o aproveitamento idílico do momento fora interrompido. 
Questionei-os a respeito dessa súbita agitação, e como de costume, não obtive resposta. Sondei o piloto, olhando em seus olhos, que como antes, parecia calmo e concentrado na errante navegação daquela aeronave de tecido e ar quente. Os gatos seguiam agitadíssimos, como que a procurar uma saída, eminente, do exíguo espaço do cesto, que era, naquele momento, nosso porto seguro. Procurei confortá-los, alertando-os desse fato, o que não surtiu o efeito desejado. De repente, ao subirmos mais uns 500 pés, o vento assumiu uma força descomunal, vindo do sentido norte, causando ao balão perda de estabilidade e altura. 
Me desesperei, e o piloto, antes calmo, passou a ficar agitado, tomando providências e procurando um local para o pouso, forçado, a que teríamos que nos submeter, informação que me foi dada aos gritos, e que recebi em completo pânico. Os gatos, por sua vez, escalavam as paredes do cesto com suas unhas e preparavam-se para pular, na primeira oportunidade. Pensei, em fração de segundos, que talvez soubessem o que estavam fazendo, de maneira que procurei imitá-los, me preparando para um salto conforme descíamos em alta velocidade, com o balão murchando e perdendo sustentação. 
Nos aproximávamos do chão a incrível velocidade e assim que atingimos uma altura confortável para o pulo, os gatos não titubearam, pulando elegantemente do cesto. Fiz o mesmo, não com a mesma elegância, mas com eficiência que salvara minha vida. O piloto conseguiu pular, e o balão se foi, levado pelo vento. 
 

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