O elo do exercício físico com a saúde

Jair Rodrigues Garcia Júnior

“Exercise is medicine” é uma iniciativa sem fins lucrativos lançada em novembro de 2007 pelo American College of Sports Medicine (ACSM) e a American Medical Association (AMA). O objetivo é disseminar os benefícios e orientar a prática do exercício como solução terapêutica para os sistemas de saúde. O lema: Exercício é sua prescrição para saúde. Perceba que menciona no objetivo “solução para os sistemas de saúde” e não apenas para indivíduos. Isso nos dá uma ideia da relevância do exercício físico.

 

FATOR SIGNIFICATIVO
Em 2020, nos meses iniciais da pandemia da COVID-19, o Dr. João Gabbardo dos Reis, médico Coordenador Executivo do Centro de Contingência Contra COVID-19 do Estado SP, disse em uma de suas entrevistas coletivas: “De todos os hábitos saudáveis que temos, o fator mais significativo e que trás mais impacto sobre a saúde das pessoas e prevenção de doenças é o exercício físico.” A intenção então era encorajar a população a praticar exercício, apesar do distanciamento, para se proteger da COVID-19 e outras doenças.

 

PREVENÇÃO PRIMÁRIA
O exercício físico é um dos principais fatores do nível de prevenção primária das doenças cardiovasculares (aterosclerose, infarto), cerebrovasculares (AVC, esclerose), metabólicas (diabetes, dislipidemia), neurodegenerativas (Alzheimer), mentais (ansiedade, depressão), osteomusculares (lombalgia, osteoporose, sarcopenia) e câncer. São doenças que acometem principalmente pessoas 35+ e que têm a incidência aumentada progressivamente com a idade. Uma característica comum dos pacientes de todas as idades é o sedentarismo, normalmente somado a outros fatores de risco.

 

QUAL É O TCHAN DO EXERCÍCIO
Mas como afinal o exercício físico protege ou, ao menos, diminui o risco para tantas doenças (26 ou mais)? Qual é o “pulo do gato” ativado pelo exercício físico? A resposta mais provável parece ser: as miocinas. Elas são proteínas produzidas pelos músculos, principalmente durante o esforço vigoroso, que têm efeito nos próprios músculos, no fígado, pâncreas, cérebro, intestino, ossos, tecido adiposo e sistema imune.

 

EFEITO DE HORMÔNIO
As primeiras miocinas identificadas, há mais de 20 anos, foram o Fator de Crescimento Semelhantes à Insulina 1 (IGF-1) e a miostatina, ambas atuando no próprio músculo, porém com efeitos contrários: IGF-1 estimula o crescimento muscular, enquanto a miostatina freia o crescimento (afinal excesso de músculo pode ser disfuncional). Depois foram identificadas as interleucinas (IL-1ra, 6, 8, 10, 15), a irisina e várias outras miocinas.

 

EFEITOS PROTETORES
A irisina e a IL-6 e 15 estimulam a quebra de gordura no tecido adiposo, auxiliando no equilíbrio metabólico. O FGF-21 melhora a sensibilidade à insulina e a IL-6 bloqueia o TNF alfa, que é um fator de resistência à ação da insulina (pró-diabetes). A irisina estimula a secreção de insulina e junto com o FGF-21 estimulam a termogênese, aumentando o gasto de energia. A irisina tem efeito neuroprotetor, previne a formação de placas amiloides e pode auxiliar na restauração de funções neurológicas. As “doses” dessas e outras miocinas (e seus efeitos benéficos) podem obtidas com sessões de exercício físico. Uma “farmácia” inteira sem efeitos colaterais.

 

As miocinas produzidas pelos músculos durante o esforço vigoroso têm efeitos benéficos nos próprios músculos e outros órgãos e tecidos.

 

 

Referências

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