A pequena menina, talvez, com 6 anos completos, brincava na área de casa, protegida pelo telhado de telhas vermelhas e pela frondosa sombra da jaqueira, que nessa época do ano, emanava o doce cheiro da fruta. Rodeada de vasos com plantas, grandes e médios, a menina cantarolava singela canção, acompanhando, do seu jeito, o canto dos pássaros naquele fim de tarde ensolarado e quente. Os cabelos castanhos e levemente cacheados, que brilhavam ao sol, iluminavam-se com a pele branca da menina, com seu vestido claro de flores pequenas, como ela mesma.
Enquanto dava passos incertos, ora pra cá, ora pra lá, girando e dando corridinhas em busca de alcançar seus amigos de asas, a menina era observada pelo gato amarelo da família, que preguiçoso e bonachão, a acompanhava com os olhos, sem se mexer, afim de evitar a fadiga. Sentia-se agitado, contudo, com a energia da menina, que não parava nem por um segundo, fazendo com o brilho de seus cabelos ao sol atingissem os olhos do gato, que via-se, nessas ocasiões, obrigado a fechá-los, perdendo a menina de vista, ainda que por poucos segundos. Resolveu, por fim, intervir, dizendo:
_ Hei garotinha, porque não fica quieta um pouco? Não seria o caso de ficar mais tranquila, como eu? Perguntou o gato, com voz grave e preguiçosa.
A menina, dotada de fértil imaginação, coração e mente abertas ao imponderável, não estranhou as palavras, antes disso, parecia ter familiaridade com elas, respondendo prontamente à provocação mal humorada do felino:
_ Você deveria levantar daí e brincar comigo, seu preguiçoso! Vamos subir na árvore? Queria tanto comer jaca, vamos? Venha, sou subir.
Enquanto respondia ao gato, assim, inocentemente, a menina virou-se em direção da jaqueira e apoiando o pé em uma depressão de seu tronco, puxou seu pequeno peso para cima ao agarrar com toda sua força um dos galhos, projetando-se para um patamar de onde poderia subir na árvore com certa facilidade, estando, rapidamente, a pelo menos 2 metros do chão. O gato ficou aflito com a cena e teve que intervir, dessa vez, subindo na árvore com agilidade e facilidade comum aos felinos. Posicionou-se um pouco acima da menina, de maneira a impedir que ela continuasse a subir. A pequena, contudo, não se fez rogada e parecia querer insistir na travessura. O gato então disse:
_ Eu preferiria que você descesse dessa árvore, há muitos perigos aqui que você desconhece, afinal, você não sabe subir em árvores como eu e muito menos sabe voar como seus amiguinhos com asas. Vamos, desça agora mesmo! Insistiu.
A seriedade do felino parecia-lhe a mesma de sempre, mas o tom grave parece ter assustado a garotinha, que titubeava entre continuar a aventura a aceder aos argumentos do bichano, que chegou a mostrar os dentes e levantar o rabo para reforçar sua reprimenda.
_ Então vamos pular daqui!! Gritou a menina, projetando-se para baixo, caindo, logo em seguida, com os dois pés no chão, queda amortecida pela sandália de borracha que vestia e pela mãozinha, que apoiara no chão afim de evitar cair para frente. O gato continuou na árvore, aliviado e ainda mais mal humorado.