O grande presente que é a vida

A IPA (Associação Psicanalítica Internacional) é uma organização que reúne profissionais da psicanálise de todo o mundo. Foi fundada por Sigmund Freud em 1910, com o objetivo de promover e desenvolver a teoria e a prática psicanalítica. Viver é um presente. Estar presente no presente é vida. Pois bem, ela ofereceu “Um pequeno presente – Setembro de 2025”, para todos os associados nesse mês, conhecido como Setembro Amarelo. 
Ao contemplá-lo, logo coloquei-me a sonhar sobre o seu conteúdo significativo. É uma linda imagem (IA) da obra de arte de Andrés Curruchich,1968, chamada “Os padrinhos”, associado a uma frase contida em “O amor em tempos de Cólera”, de Gabriel Garcia Márquez, e diz assim: “Ele se deixou levar por sua convicção de que os seres humanos não nascem totalmente no dia em que as mães os dão à luz, e sim que a vida os obriga muitas e muitas vezes a se parirem a si mesmos”. 
O que é a vida senão, movimentos constantes de um “parir” nosso de cada dia? Viver exige! Freud em seu texto “Mal-estar na civilização” (1930) diz assim: “Não podemos pular para fora deste mundo, estamos nele de uma vez por todas”, e “há um vínculo indissolúvel, de ser uno com o mundo externo como um todo”. E, “o propósito da vida é simplesmente o programa do princípio de prazer, que domina o funcionamento do aparelho psíquico desde o início... E não há possibilidade nenhuma de ele ser executado, todas as normas do universo são contrárias”. 
Então, Freud diz que “a felicidade, contudo, é algo essencialmente subjetivo” e “A sociedade e os seus padrões influenciam nossa felicidade”, destacando então o conflito entre nossos desejos individuais e as expectativas da sociedade. Realmente, desde nossa concepção há um turbilhão de emoções que giram em torno de perdas, separações, conquistas e ganhos. É um vai e vem entre dúvidas e incertezas. Narcisicamente, lutamos diante das cesuras, resistindo ao crescimento e desenvolvimento. 
Mudanças implicam visitar o desconhecido, muitas vezes, há escolha em direção da alienação e refúgios até para nossa própria sobrevivência. Utilizamos mecanismos de defesa como racionalização, negação e fuga e até mesmo, a retirada para um mundo delirante. Nós psicanalistas sabemos, que em determinados momentos, quando as defesas falham, frustrações de qualquer tipo podem ser sentidas como aniquiladoras. A contemporaneidade em meio à aceleração, cobrança desenfreada, perfeccionismo e prevalência do Ter leva o indivíduo em direção à frustração constante e ao esgotamento físico e mental onde a construção do Ser acaba sendo impossível. 
Um vazio invade e o tédio toma conta e a busca por soluções mágicas surgem subitamente. É preciso sustentar esse mal-estar que irrompem em nossa rotina, ressignificar as faltas. Saber esperar o tempo certo. Esperar é sanidade. Dar um tempo é saudável. Simbolizar é vida. Há pessoas que sofreram dificuldades na constituição do psiquismo onde as figuras protetoras iniciais foram internalizadas sem que estabelecesse um sentido de coesão, segurança e a construção de si próprio é vivenciado sempre como risco de dissolver-se, desagregar-se ou liquidificar-se. Essas pessoas têm maiores propensões ao suicídio. 
Todos os seres humanos necessitam do olhar do outro para se sentirem existentes, mas para algumas pessoas esse olhar é fundamental. Na ausência dele, elas não se sentem vivas, sentem-se perdidas ou à deriva. Os aspectos preventivos poderão levar à identificação de sofrimento mental de forma precoce, evitando assim, um possível suicídio ou um estado mental conhecido como colapso. Buscar ajuda especializada poderá iluminar e organizar os pensamentos soltos e desagregadores. Sempre haverá alguém disposto ao amparo e acolhimento.

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