O menino que virou desembargador...

Iracema Caobianco Silva

CRÔNICA - Iracema Caobianco Silva

Data 05/08/2023
Horário 06:04

Ainda era um tempo em que a televisão, telefone celular, internet, WhatsApp, e toda comunicação on-line não faziam parte do nosso universo.
Nosso passeio na infância era visitar as irmãs da mamãe aos domingos e passar as tardes com os primos. Caminhávamos longa distância até chegar ao destino, sem reclamar do sol quente ou porque andávamos muito, tanta vontade de estar com a família. A alegria com nossa chegada estava no abraço apertado e uma felicidade estampada no rosto de usufruir daqueles momentos.
Os filhos eram numerosos de ambas as partes e as brincadeiras eram divertidas com os mais novos, registradas em nossa memória, laços que não se desfazem além da vida.
Em casa, sete meninas e dois meninos mais velhos, éramos as mais novas que acompanhávamos a mamãe por todas as comemorações de vida, da família e dos amigos, para visita de doentes ou a despedida de alguém. O passeio à casa da tia Nica era o mais esperado porque as meninas eram seis, da mesma idade que a nossa, onde compartilhávamos as mesmas preferências por brincarmos com tanta brincadeira inventada e divertida. Único menino da tia Nica era o caçula, Paulinho. Muito estudioso, amava ir à escola, estudar, ler e aprender. Ainda no primário, caminhava um longo trecho até a chegada do Grupo Escolar Dr. José Foz.
“Hoje o Paulinho chegou chorando da escola”, nos contou a tia Nica. Indagamos a causa e ela nos respondeu que sua professora havia faltado por estar doente. Não havendo substitua, as aulas eram suspensas. Diante deste comportamento, vislumbrava- se a persistência desta criança diante do estudo e responsabilidade e dedicação tão precoce.
Gostávamos desta casa porque as primas comemoravam a nossa chegada com as brincadeiras enquanto nossas mães conversavam. A hora do café era muito esperada com o pão saído do forno quentinho rescendido o aroma pela casa, e o pão branquinho, crescido muito bem, guardado em nossa memória afetiva ainda registrada nestes momentos únicos. “Venham, o café está na mesa...”.
Toda memória destas tardes estão gravadas da infância serena onde a conexão familiar permanece como elo indissolúvel de amor e saudades... E nela, a lembrança do comportamento deste menininho que chorava quando não havia aula e tinha que voltar para casa. Sua humilde origem não o impediu de estudar em escolas públicas, nunca faltar, continuar os estudos independente da condição familiar. Estudou na Faculdade Toledo, sua formação em Direito. Foi mestre durante muito tempo nesta faculdade, deixando sua experiência de vida ,seu profissionalismo ,carisma humildade e suprema sabedoria na construção e formação de inúmeros profissionais que enaltecem a nossa cidade e também fora dela. Foi juiz de Direito, exercendo por muito tempo a sua dedicação à ilibada profissão como juiz.
Nossa cidade está orgulhosa deste cidadão, lembrado por seus alunos com admiração pela sua didática, inteligência, profissionalismo, pela sua humildade e grandeza de espírito. Sua nomeação como desembargador do Estado muito orgulha deste filho prudentino. Deus o proteja para uma longevidade plena de saúde e prosperidade...
E a nossa felicidade por fazer parte da vida deste menino resiliente e esforçado que virou desembargador... 

 

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