Nos últimos meses, empresas de diversos setores têm relatado dificuldades em encontrar mão de obra para vagas formais. Restaurantes, comércios, fábricas e até prestadores de serviços vêm enfrentando o mesmo dilema: faltam candidatos interessados em empregos tradicionais com carteira assinada. Mas ao contrário do que muitos pensam, o problema não está relacionado aos programas assistenciais do governo, que pagam em média R$ 700 mensais. A explicação é outra — e passa pela ascensão dos chamados “bicos de luxo”.
A popularização de plataformas como Shopee, iFood e outras de delivery criou uma nova lógica no mercado de trabalho. Motoristas e entregadores autônomos têm optado por atividades informais que oferecem flexibilidade de horários e ganhos acima da média.
Um exemplo é o entregador Shopee. Trabalhando de cinco a seis horas por dia, com cerca de 120 entregas, um entregador pode alcançar até R$ 10 mil mensais, dependendo da região e da produtividade. Para muitos, o volume intenso de trabalho compensa, principalmente pela liberdade de montar a própria rotina e pela ausência de chefes ou metas corporativas rígidas.
Casos semelhantes ocorrem com entregadores do iFood, que relatam renda mensal de R$ 2.500 a R$ 3.000, trabalhando em horários escolhidos por eles mesmos. Esse novo formato de ocupação tem atraído milhares de pessoas em busca de autonomia e ganhos mais rápidos. Muitos afirmam que, mesmo com os desafios da informalidade, preferem essa liberdade ao modelo CLT.
O novo trabalhador urbano é empreendedor de si mesmo. Ele utiliza carro, moto ou bicicleta, retira pacotes em centros de distribuição e monta sua rota de entregas. Em troca, ganha por produtividade e muitas vezes recebe no mesmo dia. O perfil é cada vez mais comum entre jovens e adultos que preferem assumir riscos e ter ganhos proporcionais ao seu esforço diário.
Enquanto isso, empregadores que oferecem salários fixos e horários engessados estão perdendo espaço. Para especialistas em mercado de trabalho, a tendência é que as empresas tradicionais precisem repensar suas propostas: oferecer modelos híbridos, participação nos lucros e escalas mais flexíveis.
A verdade é que o mercado de trabalho está mudando — e rápido. A estabilidade da CLT já não é mais o único atrativo. Hoje, trabalhadores querem autonomia, retorno financeiro rápido e menos burocracia. E quem não acompanhar esse movimento, pode ficar para trás.