O preço por trás do brilho

OPINIÃO - Amanda Whitaker Piai

Data 19/06/2025
Horário 04:30

Quantas vezes você já se pegou querendo estar na posição do outro? É quase inevitável, em algum momento da vida, nos compararmos com os demais. Por vezes, isso acontece sem que percebamos: ao ver uma postagem nas redes sociais ou ao ouvir um relato de conquista. Nessas horas, surge uma sensação incômoda, difícil de nomear, que mistura admiração, frustração e desejo. Olhamos para a vida alheia com uma lente bastante seletiva, focando nos momentos de brilho, nos sorrisos, nas conquistas aparentes — e esquecemos que aquilo que enxergamos é apenas uma parte da história. 
Esquecemos que esses recortes que admiramos não existem isolados. Cada conquista carrega consigo uma história, um caminho percorrido, que inclui esforço, renúncias, dores e incertezas. Queremos o brilho, mas desconsideramos as sombras que o antecedem. Desejamos o corpo saudável, mas não o compromisso diário com treinos e alimentação. Almejamos uma carreira bem-sucedida, mas ignoramos as madrugadas de estudo, as pressões silenciosas, os fracassos anteriores. Sonhamos com um relacionamento harmonioso, mas não vemos o trabalho emocional, os conflitos enfrentados, as conversas difíceis que sustentam aquele vínculo.
A inveja, portanto, costuma ser seletiva. Ela nos leva a idealizar trajetórias sem considerar os bastidores. Comparamos o que temos por inteiro — com todas as nossas dores, dúvidas e desafios — com o que vemos do outro em versão editada. E é exatamente aí que mora o risco: passamos a acreditar que a felicidade do outro é plena, enquanto a nossa está sempre aquém. No entanto, nenhuma vida é feita apenas de conquistas. Nenhuma história é vivida sem perdas.
Talvez o caminho mais honesto seja reconhecer que, ao invejarmos, estamos apontando para algo que valorizamos. Esse sentimento pode nos oferecer pistas importantes sobre nossos próprios desejos, desde que o encaremos com sinceridade e maturidade. Ao invés de nos compararmos de forma injusta, podemos nos perguntar: estou disposto a percorrer o caminho necessário para chegar a esse resultado? E mais: essa conquista realmente faz sentido para mim ou apenas se tornou desejável porque parece admirada pelos outros?
Quando deixamos de olhar para o outro como referência absoluta, abrimos espaço para valorizar a singularidade da nossa própria trajetória. Toda vida carrega luzes e sombras — inclusive a nossa. E aprender a reconhecer e acolher esse conjunto nos torna menos reféns da comparação e mais conectados com aquilo que, de fato, nos move.

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