A semana foi exaustiva. O ponto mais intenso do trabalho girou em torno da discussão do orçamento da universidade para 2026, quando interesses diversos se cruzam. Permanência estudantil, custeio das 34 unidades da Unesp, investimentos em infraestrutura, valorização dos servidores, condições para ensino, pesquisa e extensão — tudo parecia caber numa mesma mesa, mas não sem tensões. Havia ali um choque de gerações.
Uma jovem estudante perguntou, com a franqueza que só a juventude ainda preserva: para quem a universidade foi pensada? E a intervenção da professora Maysa abriu uma fresta de horizonte. Segundo ela, a universidade é um projeto que existe para mudar, para transformar. Ela é, em si, um projeto em permanente construção. Veja o exemplo da Unesp, que nasceu como parte de um plano de desenvolvimento do interior paulista, um projeto de ciência e tecnologia, mas também de sociedade. Desde então, carrega a tensão entre ser um bem público e responder às demandas do mercado, lutando para não perder a essência desta instituição secular - a liberdade de cátedra e o pensamento crítico.
Costumo dizer que a universidade é uma instituição conservadora. No sentido literal do termo: ela conserva saberes, tradições, rituais. Mas a nossa reitora tocou na natureza mais profunda da universidade: ela é a ponte entre uma ideia e sua realização concreta. Por causa disso, a universidade é sempre transformadora. Um projeto não é apenas um documento bem organizado, mas um esforço temporário e único, com começo, meio e fim, tentando transformar inquietações em algo que exista no mundo.
Aquele debate fez muito sentido. Lembrei dos projetos que me envolvi, alinhando passos, dúvidas e sonhos. É verdade, não estamos aqui para cumprir apenas tarefas, mas produzir sentidos. Assim também são as aulas: não são eventos isolados no calendário, mas capítulos de uma narrativa maior, articulada ao plano de ensino e ao projeto pedagógico.
Cada encontro é um fio que, cuidadosamente tecido, contribui para o desenvolvimento dos estudantes — essa obra sempre inacabada. Talvez por isso o trabalho com projetos faça tanto sentido na educação. Os estudantes deixam de ser espectadores e se tornam protagonistas. Investigam, erram, refazem, colaboram. O professor, então, não entrega respostas, mas provoca perguntas. No fim, viver, ensinar e pesquisar se parecem muito: são maneiras de sustentar pontes entre o que sonhamos e o que ainda podemos construir. São projetos a partir dos quais seguimos atravessando.