O que as mortes nos revelam?

OPINIÃO - José Roberto Vieira

Data 08/07/2020
Horário 04:59

Desde dezembro, notícias da China nos advertem da gravidade da Covid-19. Vários foram os alertas da OMS (Organização Mundial da Saúde) sobre a progressão geométrica do contágio. Porém, não nos organizamos, nem nos antecipamos ao problema. Em fevereiro, enquanto vários países agiam, nós pulávamos carnaval.

O SUS (Sistema Único de Saúde) foi uma conquista histórica na Constituição de 88. Cujo artigo 196 prevê: “A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.”

Embora objeto de descrédito por parte da população, em face das omissões da classe política, o SUS é referência internacional pela OMS e foi inspiração para o Obamacare nos Estados Unidos.

É a maior crise de gestão em 30 anos. A pandemia exige um ministro da Saúde capacitado. As compras internacionais de equipamentos hospitalares por Estados e municípios comprovam a nossa desorganização. A apreensão pela Receita Federal de produtos importados pelo Maranhão escancara a politização da pandemia e a indiferença à vida.

Mais eficiente e menos oneroso seria uma aquisição pela União e a distribuição por critérios técnicos aos Estados, pela logística de transporte da FAB (Força Aérea Brasileira).

Além desses equívocos no planejamento estratégico de enfrentamento, o tamanho do isolamento virou interminável disputa político-ideológica. A divergência entre o direito à vida e a economia parece não ter fim. Nem o crescente número de mortes é capaz de sensibilizar o fanatismo e conduzir os políticos ao diálogo institucional.

É certo que em nenhum país houve unanimidade sobre a abrangência do isolamento. Mas em muitos, um mínimo de consenso, possibilitou rígidos limites à circulação, consequentemente a contenção da transmissão.

Na Inglaterra, 75% da população assistiu à rainha pedir autodisciplina ao perceber a imprudência de seu primeiro ministro. Na Nova Zelândia, exemplo de combate à Covid-19, a primeira-ministra Jacinda Ardern foi impedida de entrar em um café devido à lotação.

Passamos a ser um alto risco para os demais países da América do Sul. Especialmente para o Paraguai. Portanto, os países que se mostraram eficientes foram os que seguiram as diretivas da Organização Mundial da Saúde.

Na contramão da ciência e do bom senso, aqui o presidente minimiza a gravidade e critica a OMS. Apesar de termos o SUS, o número de mortes é o atestado da nossa desorganização política, social e econômica.

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