O que comemos ainda é comida?

OPINIÃO - Osmar Marchioto Jr.

Data 30/04/2025
Horário 04:30

Você já parou para pensar no que realmente está comendo? Aquilo que colocamos no prato todos os dias, o que compramos no mercado, abrimos em embalagens coloridas e muitas vezes consumimos sem sequer olhar, ainda pode ser chamado de comida?
A ciência tem um nome para boa parte desses produtos modernos: alimentos ultraprocessados. São criações da indústria, feitas a partir de substâncias isoladas de alimentos de verdade: farinha refinada, óleos modificados, adoçantes artificiais, corantes, aromatizantes e uma lista interminável de nomes que não existem nas receitas da nossa avó nem nas nossas panelas.
Eles foram pensados para durar mais, serem mais práticos e irresistíveis ao paladar. E funcionam. Eles seduzem. Estão por toda parte: no café da manhã apressado, no lanche das crianças, nos corredores dos supermercados, nas promoções do delivery. Mas, com essa praticidade, veio um custo silencioso.
Estudos realizados em diferentes países mostram que o consumo excessivo desses alimentos está associado ao aumento de obesidade, hipertensão, diabetes, doenças cardiovasculares e até alguns tipos de câncer. Mais do que calorias vazias, os ultraprocessados desorganizam o nosso corpo, confundem nossa saciedade, alteram a flora intestinal e inflamam silenciosamente nosso organismo.
Este texto não é sobre culpa. É sobre consciência.
Não se trata de demonizar um pacote de biscoito ou uma fatia de pão de forma. A questão é o quanto esses produtos ocuparam o espaço da comida de verdade, aquela feita com ingredientes reconhecíveis, cozida com tempo, história e afeto.
É como trocar um concerto de orquestra por um jingle publicitário repetitivo. Perde-se a riqueza, perde-se o vínculo, perde-se também a saúde.
O Brasil é referência mundial nessa reflexão. O nosso Guia Alimentar para a População Brasileira, considerado modelo internacional, recomenda com clareza: “Prefira alimentos in natura ou minimamente processados e preparações feitas por você ou por pessoas próximas.” É uma estratégia concreta de promoção de saúde pública.
Voltar à comida de verdade é, antes de tudo, um ato de autocuidado e resistência. Em um mundo onde tudo é feito para ser rápido e descartável, parar para cozinhar, escolher ingredientes frescos e sentar-se à mesa é quase um ato revolucionário.
E não precisa ser complicado. Pequenas trocas já fazem diferença: frutas frescas no lanche, refeições caseiras no lugar de pacotes prontos, mais legumes no prato e um carrinho de compras cada vez mais preenchido por alimentos que reconhecemos pelo nome e pela origem.
Ao olhar o rótulo, pergunte: reconheço esses ingredientes? Usaria cada um deles na minha cozinha? Se a resposta for não, se a lista parecer mais uma bula farmacêutica, é sinal de alerta. Talvez aquilo não seja comida, mas apenas um produto comestível.
A saúde não começa no consultório. Ela começa no carrinho do supermercado, no fogão da cozinha, na atenção dedicada às pequenas escolhas do dia a dia.
É uma escolha firme e consciente, de quem entende que cuidar da saúde não é renunciar à vida boa. É investir no que ela tem de melhor: vitalidade, liberdade, qualidade e tempo.

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