O que seria do panetone, se todos amassem o chocotone?

Roberto Mancuzo

CRÔNICA - Roberto Mancuzo

Data 24/12/2024
Horário 06:00

Na prateleira do supermercado:

— E aí, amigo, como vai? Pegando uma poeira aí? — provocou o chocotone, com um sorriso maroto em seu embrulho todo brilhante e publicitariamente desenvolvido. 

— Poderia ser melhor, se não fosse pela empáfia açucarada de certos vizinhos por aqui... — respondeu o panetone de frutas, ajeitando seu tradicional laço dourado com ares de superioridade.

— Ah, pronto. Não começa com essa história de "saúde fitness" de novo. No fundo, você sabe que sou o mais amado. Crianças me adoram, adultos me disputam, especialmente os ansiosos, e ninguém precisa tirar as frutas secas no prato. Eca!

— Crianças não sabem nada sobre história, caro amigo. Eu sou um clássico e clássicos não precisam se explicar! Nasci muito antes de você, numa Itália que valorizava o que é artesanal, o que é feito com alma e carinho. Fui criado pelas mãos de mamães e vovós cuidadosas e amorosas. Você é só uma moda, um capricho moderno, ideia de um doido que resolveu engordar nossa espécie!

— Invejoso! Moda ou não, eu faço sucesso! Você tem noção do que acontece quando alguém dá uma mordida em mim? A pessoa flutua, meu amigo. Ela não engorda, ela se enche de luz, de felicidade. Bem diferente de você, que quando alguém te morde já engole um monte de fruta de plástico. Aliás, tão dizendo por aí que essa cereja sua aí dentro é feita de chuchu. É verdade?

— Tá maluco, rapaz? Tudo em mim é original. Aliás, eu não sou só sabor, mas sou também a memória, sou o gostinho bom de Natais passados, de família reunida, de tradição que atravessa gerações.

— Gosto de coisa velha, você quer dizer, né? Olha, cuidado que vão se engasgar com suas frutinhas!

Antes que o panetone pudesse replicar, uma mão apareceu e pegou o chocotone.

— Tá vendo? — disse ele, triunfante. — Sempre escolhem a felicidade máxima!

— Não seja tão arrogante. — O panetone foi interrompido por outra mão, que o agarrou logo em seguida.

— Ué... Você também? — disse o chocotone, meio desconcertado e continuaram conversando enquanto iam para o caixa, meio lado a lado.

– Claro. Há espaço para todos no Natal, meu caro.

— É, parece que cada um de nós tem seu público.

— Sempre foi assim, amigo. Eu trago tradição e você inovação. É isso que torna o Natal tão especial. Nós vamos para casas diferentes, mas com o mesmo propósito, de fazer parte da festa que celebra a pessoa mais importante que já passou por este mundo. Jesus é tradição, mas também é atual, está em todos os lugares, em cada coração que irá viver o Natal à sua maneira, com suas condições.  

— Agora você me fez chorar! Feliz Natal, meu amigo! Feliz Natal, a todos!

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