O silêncio dos (nada) inocentes

Roberto Mancuzo

CRÔNICA - Roberto Mancuzo

Data 03/11/2020
Horário 06:00

Vou pegar como gancho para esta crônica o “quase” silêncio adotado por parte da empresa Prudente Urbano e da própria administração municipal de Presidente Prudente no caso da última greve de ônibus na cidade. 
A paralisação dos funcionários teve início na última quinta-feira (29). Por toda cidade, milhares de trabalhadores precisaram se reorganizar, ou melhor dizendo, fizeram das tripas coração para conseguir se deslocar, ir ao trabalho, ao médico, à escola. Um reflexo ruim, mas claramente sabido por todas as partes envolvidas. 
E em que pese a reivindicação dos trabalhadores, a justeza do ato grevista e o drama de usuários do transporte público, o que ficou claro, de uma vez por todas, é a falência da moral pública por parte de quem deve explicações, especialmente diante de uma população que merece bem mais atenção do que simples notas protocolares.
Como em muitas situações semelhantes, cada uma das partes envolvidas sente-se inocente, cada uma delas desculpa-se com o que pode. 
Mas que fique claro: não são inocentes! Não acordaram de um dia para o outro nos cargos que ocupam e tampouco foram obrigados a assinar contratos públicos. São portadores, desta forma, de uma responsabilidade social e ela inclui, sim, vir a público se explicar, tomar a frente, mostrar o rosto. Qual é a face que vai para jogo? Quem tem coragem?
Princípio básico e essencial de toda comunicação empresarial, seja ela na iniciativa privada ou na administração pública, é o posicionamento claro, honesto e corajoso diante de qualquer situação, positiva ou negativa. Por isso que o trabalho profissional de jornalistas, publicitários e relações públicas nesta área é cada vez mais necessário em detrimento a amadorismos ou desvios de funções como se vê regularmente. Até mesmo porta-vozes de outras áreas precisam de assessoria e bem mais conhecimento do que uma boa oratória, coragem ou maquiagem bonita. 
Gestores precisam compreender que o mundo mudou e felizmente as empresas que mais se destacam hoje na sociedade são aquelas que não têm medo de se expor. Estão ao lado dos seus públicos de interesse para encontrar soluções e caminhos de desenvolvimento. Falam a mesma língua e simplesmente respondem quando questionadas. Nada mais honesto que isso e, portanto, crescem, avançam e evoluem. 
O lado oposto deste cenário é marcado pelo provincianismo barato, pela falta ou inoperância de estruturas profissionais de comunicação, pelo atraso e pela covardia em se esconder atrás de notas ridículas, que de tão aleatórias chegam a cheirar falsidades. Há tempos que a população da região de Presidente Prudente tem convivido com este modus operandi. E daí que assistimos, ouvimos ou lemos as matérias jornalísticas, ficamos indignados e quando precisamos saber uma posição correta do outro lado, vem a famosa sentença de que os envolvidos “Decidiram se pronunciar por meio de nota”.
Neste sentido, cabe também uma responsabilidade à imprensa: não se deve aceitar qualquer resposta e, em especial, aquelas que vêm com textos forjados nos manuais mais toscos de assessoria de imprensa. A imprensa não deve ser a casa do conformismo, da preguiça e da obviedade. Jornalistas devem recusar, exigir e correr atrás de uma resposta decente. É dever mostrar que foi lá, descrever o percurso, por mais pentelho que seja. Ser, de fato, a voz de quem não tem voz, a perna de quem não tem condições de entrar em uma sala bonita da diretoria de uma empresa ou no gabinete de um secretário. Recusem as notas baratas e expliquem à população de forma bem clara que a resposta não é digna de quem paga seus impostos em dia e faz de tudo para cumprir seu papel social. 
A coragem é própria dos homens de bem e não daqueles que se silenciam, fingindo uma inocência que não possuem.
 

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