O Vexame da Madame

Sandro Villar

O Espadachim, um cronista a favor do forro e do forró.

CRÔNICA - Sandro Villar

Data 11/04/2021
Horário 06:15

Esta historinha é verdadeira e demonstra a importância de se manter, por parte dos lojistas, um diálogo honesto com os clientes. Uma senhora, com ares de madame nada Butterfly ou com um quê de rainha da cocada azul, entrou em uma loja de carrões importados, aqueles que só 1% da população pode comprar, e ficou boquiaberta ao ver tanto automóvel bonito.
Em suma: madame ficou de queixo caído diante de um dos automóveis, dando a impressão de que viu o Cauã Reymond dentro do carrão e com a mão no volante convidando-a para dar um rolê. Ela olhou ao redor, examinou o objeto do desejo de cabo a rabo e de fio a pavio.
A mulher, com mais de 60 carnavais na linha do tempo da existência, achou o carrão perfeito. E continuou a examiná-lo, apalpando-o(que língua, meu deus!)de todo jeito. Passou a mão no capô e na lataria em geral para certificar-se de que não havia riscos na pintura etc e tal.
Por fim, abriu o porta-malas e foi além. Ela também conferiu os pneus, o que pareceu ser uma vistoria ou exame minucioso de fiscal do Detran. Mesmo depois de tudo isso, madame não tirava os olhos do carrão. Aí ela teve um estalo: quis ver o carro por dentro. Antes não tivesse feito nada disso.
Madame deu o maior vexame, parecendo o Arnesto AraUSA no Ministério das Relações Exteriores, onde cutucava a China, maior parceiro comercial do Brasil. Ou parecendo certo ministro do STF, desossado duas vezes pelo ministro Gilmar Mendes, sendo a última sobre a liberação de missas e cultos durante a pandemia, vetada por 9 a 2.
Ao inclinar-se para conferir se os bancos eram de couro, a velhota deixou escapar um sonoro som que vocês sabem qual é. O que quero dizer é que ela teve, digamos, uma crise de flatulência ou de ventosidade(gostaram do verbete ventosidade?). Encurtando a narrativa: não deu para segurar o "rojão". 
Envergonhada, madame deu uma olhada para ver se não havia alguém por perto. Havia! Ao virar-se de novo deu de cara com um vendedor, que já estava atrás dela. "Bom dia, senhora, posso ajudá-la?", perguntou o vendedor pra lá de educado. 
Meio sem graça, parecendo operador da Bolsa de Valores em dia de crise financeira, ela perguntou ao vendedor: "Meu rapaz, qual é o preço deste adorável veículo?" Aí o vendedor respondeu: "A senhora me desculpe a sinceridade, mas, se a senhora soltou "gases" somente ao vê-lo, vai se borrar toda quando souber o preço".
Evidente que o rapaz não falou as palavras gases e borrar. O cronista é que é meio puritano e, por isso, resolveu apelar para o eufemismo, que é o "ato de suavizar a expressão duma ideia substituindo a palavra apropriada por outra mais cortês"(obrigado, mestre Aurélio, por me livrar desta encrenca gramatical).
  
DROPS

Vende-se mala por motivo de viagem.
(cômico Alegria)

Um povo que precisa de um salvador não merece ser salvo.
(Millôr Fernandes) 

  
De derrota em derrota chegaremos à vitória.
(Maria da Conceição Tavares, economista)

Não estou convicto de que estive com Victor.
(Cantinflas, comediante mexicano)

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