Observatório aponta que 77,85% dos deficientes visuais são mulheres

Dado é um comparativo de 2010 a 2022, porém, na AFPC em Prudente maioria é de homens; especialista fala sobre doenças que levam à cegueira parcial ou total

PRUDENTE - OSLAINE SILVA

Data 02/03/2024
Horário 04:03
Foto: Cedida
Irene atualmente é uma das paratletas da natação da Apop
Irene atualmente é uma das paratletas da natação da Apop

De acordo com dados do Observatório dos Direitos da Pessoa com Deficiência, os tipos de deficiência mais prevalentes tanto em 2010 quanto 2022 são na sequência: visual, física, intelectual e auditiva. E a incidência de uma população, em maior parte, formada por mulheres, de 1.196,222 para 2.127,507 (77,85%) nos respectivos anos. O oftalmologista prudentino Guilherme Yoshiyasu, 34 anos, especialista em retina e catarata pelo Hospital de Olhos do Paraná (PR), que atende na Vision Center, clínica da família, em Presidente Prudente, menciona que as mulheres são mais acometidas pelo fato de a sobrevida delas ser mais alta em relação ao homem.

Segundo o especialista, os tipos de deficiência visual são na sequência: glaucoma, degeneração macular e retinopatia diabética. E os principais fatores: ausência de consulta de rotina, diabetes, hipertensão arterial e idade avançada. 

“Cegueira irreversível é quando o paciente não enxerga nem luz. Cegueira legal é quando a pessoa enxerga menos que 20/200 no melhor olho. E visão subnormal é quando enxerga pior que 20/200. Quem usa óculos não é deficiente visual se com o item enxergar 100%”, expõe o especialista.

De acordo com Eliete Margutti, coordenadora da AFPC (Associação Filantrópica de Proteção aos Cegos), atualmente, das 120 pessoas com deficiência visual atendidas na instituição, a maioria é de homens, 70, e 50 são mulheres. E a reportagem traz a vocês leitores, a experiência real de vida de duas dessas mulheres.

Uma delas é a advogada Irene Aparecida da Silva, 52 anos, mãe de dois filhos, Mariana, 27, e Murilo, 24. Ela diz que a deficiência está ligada à doença e é muito difícil conviver com isso, devido à aceitação, o medo, mudanças no dia a dia e os constantes colírios que têm que ser usados. 

“Um dos maiores desafios dessa condição é a aceitação e, na sequência, o aprendizado de como viver, lidar com a deficiência. E ainda temos que conviver com as pessoas que não compreendem e nem respeitam a nossa dificuldade. Já ouvi muitas vezes: ‘Você tem problema de visão e não nos braços...’”, expõe Irene, que venceu esses obstáculos dando um passo de cada vez em sua nova condição de vida. 

A partir de 2018...

Irene conta que logo que descobriu que tinha glaucoma (a pressão do olho alta), em 2018, seus filhos ficaram com o ex-marido e ela, que residia em São Paulo, voltou a Presidente Prudente para viver com sua mãe, pois eles acharam melhor, uma vez que a casa da avó já é adaptada para PcD (pessoa com deficiência), porque o avô era cego. 

Ao ser diagnosticada com a doença, Irene cita que foi passando colírios até março de 2019, quando foi feita a primeira cirurgia no olho esquerdo, cuja pressão estava em 55, e o direito, que estava em 33 deu para segurar. Ocorre que, em 2020, ela precisou se submeter a uma nova cirurgia, desta vez no olho direito. “Ainda estava em São Paulo. Não sei o que ocorreu, mas a cirurgia não foi bem sucedida, e um mês depois fiz a segunda no olho direito. E, a partir de então, numa situação um pouco mais delicada, acabei tendo que ficar de vez em Prudente”, narra Irene.

“Não consigo fazer as coisas de casa, principalmente no que diz respeito a fogão, ferro de passar, e eletrodomésticos. É muito difícil. Não sei quando o fogão está aceso e tampouco lidar com o ferro de passar. Roupas no avesso e pares diferente de tênis no pé já é normal”, conta a advogada.

Ela não é considerada cega e sim de baixa visão, porque do lado esquerdo ela consegue detectar que tem luz, mas não enxerga nada. “Na direita, perdi a visão periférica, mas enxergo um pouco mais, dito visão tubular. Eu consigo ver o que está na minha frente e bem próximo. Importante dizer que uso a bengala verde”, explica Irene.

Esporte transforma

Mas, nem tudo é só tristeza, e Irene diz que coisas boas aconteceram também. Como, por exemplo, agora ela é paratleta da Apop (Associação Paradesportiva do Oeste Paulista) / Semepp (Secretaria Municipal de Esportes) / Centro de Referência Paralímpico Brasileiro. 

Ela, que pertence à categoria S12 (baixa visão), frisa que esporte é uma coisa nova, que não existia em sua vida. Ela pontua ser difícil falar o que a natação lhe proporcionou, porque, na verdade, foi um divisor de águas. 

“Antes da natação, a deficiência me tornava fraca, me deixava angustiada. Depois, com o convívio com as pessoas, com a Apop, todos ali somos deficientes. E vendo a alegria deles, os técnicos e os estagiários me tratando da mesma maneira que com os demais, comecei a ver que não tinha nada de errado comigo. E a alegria da vida foi retomando”, exclama Irene, agradecendo a técnica Micheline Cardoso Pereira, os professores e estagiários que só lhes proporcionam alegria de viver.

SAIBA MAIS
... 20/200 ou menos, isto é, se ela pode ver a 20 pés (6 metros) o que uma pessoa de visão normal pode ver a 200 pés (60 metros),

VOCÊ SABIA?


As diferentes cores de bengala servem para fazer indicações importantes, portanto, a cor branca é utilizada para pessoas totalmente cegas, a bengala na cor verde é utilizada por pessoas com baixa visão, enquanto a bengala nas cores branca e vermelho indica pessoas com deficiência visual e auditiva.

PESSOA COM DEFICIÊNCIA POR TIPO

 

Ano de 2010

Ano de 2022

Visual

1.203.350

1.633.191

Física

866.266

1.175.811

Intelectual

502.938

682.769

Auditiva

436.064

592.022

 

 

 

PESSOA COM DEFICIÊNCIA POR GÊNERO

 

 

Ano de 2010

Ano de 2022

Mulheres

 

1.196,222

2.127,507

*Fonte: Observatório dos Direitos da Pessoa com Deficiência

Foto: Cedida

Guilherme Yoshiyasu é especialista em retina e catarata

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