Olhar e caminhar

OPINIÃO - Sandro Rogério dos Santos

Data 04/07/2021
Horário 05:00

Há quem reserve tempo regularmente para práticas de meditação religiosa. Há quem tenha abandonado a religião organizada e ritual adotando experiências místicas e esotéricas. Há um sem-fim de propagandas dessas experiências (e de novas religiões) aqui e alhures. Sei que a quem tem abertos os olhos do coração tudo fala de Deus. O olhar interior pode nos levar a contemplar Deus e a caminhar para Ele. Avanço com uma parábola.
Um monge passava todo o tempo – exceto nas horas de oração – cozinhando para uma grande comunidade num fogão a lenha. Quando lhe perguntaram como se comunicava com Deus tendo tão pouco tempo para ler livros de meditação ou para escutar sermões inspiradores, apontou a cozinha e disse: “Aí dentro há um bom pregador a quem escuto diariamente. O fogo com seu vermelho resplendor me fala do amor de Deus e me lembra que nunca devo deixar meu amor esfriar.
Quando pela manhã o acendo e vejo surgir as chamas, peço a Deus que me permita ser fiel ao meu ardente primeiro amor. Se o fogo está extinguindo-se, coloco mais lenha no fogão e faço uma pequena oração pedindo a graça que preciso para reavivar o meu, ou penso nos castigos do purgatório e do inferno. Quando o fogo já está aceso, deixo que brilhe em minha alma, quieto e calidamente, o meu amor a Deus e às pessoas. E à tarde, ao apagá-lo, lembro-me de que um dia também morrerei”.
Segundo o jesuíta Marco Cunha, diz Orígenes que Adão, antes do pecado, no paraíso, olhava para o alto e tinha os olhos fixos em Deus. Com o pecado, passou a olhar para baixo, para as coisas do mundo. Assim, encontrar Deus na nossa vida significa readquirir um olhar fixo n’Ele; um caminho progressivo e que não depende exclusivamente de nós: é uma graça a pedir, mas que pressupõe algum esforço da nossa parte.
Santo Inácio de Loyola – o fundador da Companhia de Jesus (Jesuítas) – deixou o Livro dos Exercícios Espirituais (EE) como grande legado. Os EE são para vencer a si mesmo e ordenar a própria vida, sem se determinar por nenhuma afeição desordenada (21). Organizar os afetos (a vida) em direção para Deus. Essa experiência será mais necessária e fecunda se vivemos agitados com muitas coisas, ora tragados pelo trabalho, ora pelo ‘descanso’ que cansa (aquelas muitas tarefas feitas mais para preencher o tempo e despistar, não para reconstituir a inteireza do ser).
Ou como o monge da história ou como Santo Inácio, viva à procura de Deus, destino último da existência, organizando a vida em direção para Ele. Olhar para dentro de si é um degrau para subir... Seja bom o seu dia e abençoada a sua vida. Pax!!!
 

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