Palhaços 

OPINIÃO - Raul Borges Guimarães

Data 24/09/2023
Horário 04:30

O teatro foi uma expressão artística muito forte na minha formação. Durante a minha juventude, frequentei importantes casas de espetáculo, como o Teatro Oficina, o Teatro Brasileiro de Comédia, o Teatro de Arena e o Teatro da PUC de São Paulo (Tuca). Tive também algumas experiências teatrais na escola, como a montagem da peça “Rei Momo” do dramaturgo César Vieira, dirigida pela Laura Tetti, professora de história do Colégio Equipe. Por muito pouco não prestei o vestibular em Artes Cênicas. Acabei optando pela Geografia, especialmente, com o objetivo de trabalhar no campo da educação. “A realidade sempre é mais ou menos do que nós queremos”, não é mesmo?
Depois de tantos anos, penso que os meus dilemas em torno do teatro ou da escola não eram tão antagônicos assim. Afinal, um professor não deixa de ser uma espécie de dramaturgo porque não é simplesmente um relator de fatos. Pelo contrário, procura trazer à luz aquilo que os fatos, em si mesmos, não revelam. Isso mesmo, ambos trabalham para que seu público torne-se crítico diante das situações da vida. 
A minha insatisfação diante do conformismo e das dificuldades de desenvolvimento do pensamento crítico me atraíram para leituras aparentemente díspares. Romances, poesias, teoria musical, mas também algumas obras de diretores teatrais, como Antonion Artaud, Jerzy Grotowski e Bertolt Brecht. Por esses percursos de leitura, há poucos dias, caiu em minhas mãos a peça teatral “Palhaços”, do renomado dramaturgo prudentino Timochenco Wehbi. Descobri também que Timó, como era chamado carinhosamente, começou seu curso de graduação em Ciências Sociais no ano de 1961 na faculdade que hoje faz parte do campus da Unesp (Universidade Estadual Paulista) de Presidente Prudente, onde atuou como presidente do Cine-Clube. Depois ele pediu transferência para a USP (Universidade de São Paulo) e de lá se envolveu com o mundo do teatro por meio da amizade com alunos da Escola de Artes Dramáticas. 
Como todos sabem, eu comecei a trabalhar na Unesp em 1990. No ano seguinte, a Oficina Cultural criada pelo governo do Estado para desenvolver atividades de formação e difusão culturais na cidade recebeu o nome de Timochenco Wehbi, numa bela homenagem poucos anos após a sua morte precoce, com apenas 43 anos. 
Ao terminar de ler a peça de Timó tive muito vontade de conhecê-lo pessoalmente. Certamente daríamos muitas risadas, criando diálogos imaginários do seu personagem Careta e da figura do palhaço que vive dentro em mim. “Viver simplesmente. Deixar as dores nas aras. Como ex-votos aos deuses” (Odes de Ricardo Reis, Fernando Pessoa). 
 

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