Que tipo de pessoa é você em meio à confusão generalizada nos grupos de WhatsApp, redes sociais e manifestações em geral? É do tipo que fica gritando horrores, que não suporta alguém que não tenha o mesmo pensamento que o seu ou entende que o mundo está totalmente errado e gira em torno do seu umbigo?
Parece muito radical esta pergunta, mas é exatamente assim que ficam muitas pessoas diante do menor sinal de “polêmica”. Ensandecidos, paranoicos, esquizofrênicos. Não é possível ter uma vida saudável quando o dia se pauta por discussões quase sempre imaginárias e a pandemia fez um verdadeiro circo de horrores se armar em meios às mídias digitais.
Confesso que eu mesmo me rendo às vezes à vontade de estar no meio da gritaria enlouquecida nas redes sociais, ainda mais quando os posicionamentos ideológicos, culturais, políticos e até mesmo esportivos ou novelísticos fogem do padrão que se considera correto. Mas o lance é que a nossa vida não pode se pautar por esta confusão ou estaremos definitivamente perdidos. Ou a pandemia irá terminar por levar o que nos resta de bom senso.
É uma grande hipocrisia pagar de bom moço ou defensor de bons costumes nas redes sociais e sequer compreender que a poucos metros de casa há pessoas passando fome.
É idiota curtir e disseminar discursos de ódio, fake news, palhaçadas, cortinas de fumaça quando se sabe que uma informação mal conduzida pode levar à morte de alguém ou a prejuízos morais e financeiros quase irreparáveis.
É triste, mas olhar para si próprio tem virado uma marca do brasileiro, justo um povo que sempre se orgulhou de ser solícito, humano e irmão nas horas mais difíceis. Em minha última crônica, “Precisamos falar sobre fome”, toquei justamente neste ponto ao dizer que “Compadecer-se com o outro é sofrer com ele, vivenciar a dor, mesmo não estando na condição de dor. A compaixão leva a atitudes práticas importantes porque apesar de notadamente sermos diferentes em status social, chegamos sempre à conclusão que pertencemos à mesma condição humana e assim agimos. Não é ter empatia, termo bonitinho de nossa época, mas que se reduz apenas a perceber-se no lugar do outro. Podemos até ficar tocados quando somos empáticos, mas logo sentimos o alívio de não estarmos lá naquele lugar de verdade e agimos pouco”.
É legítimo que todos nós possamos ter a força de ir às ruas lutar por mais condições de trabalho, como aconteceu no último dia 1º de maio. Exceção feita aos bucéfalos que voltaram a pedir intervenção militar no país e fechamento de STF, o que é contra a Constituição.
Mas é mais legítimo ainda que para além das nossas diferentes condições sociais, entenda-se que há milhões de brasileiros em estado de pobreza e que têm tão menos culpa de estarem onde estão do que todos nós.
E assim, é nosso dever ajudar. Se queremos realmente fazer este país crescer e se desenvolver, é preciso prestar atenção a partir de agora a uma quantidade muito grande de brasileiros que em poucos meses estarão em estado de miséria. A perspectiva é que o desemprego chegue a 15% no final de 2021 em meio a uma economia que não irá crescer. Fato.
Entendeu ou é preciso gritar?