Eu gosto de relembrar o meu passado e entre tantas idas e vindas, quedas e voos, posso dizer que tenho um saldo mais positivo do que negativo. Em outras palavras, até este momento, o passado me diz que fui um cara bem feliz.
Está tudo bem, então? Não, né?
A questão é que esta é uma pequena parte do que nossas memórias podem nos oferecer. A sensação de que vivemos bem até agora é tranquila e nos dá paz, mas não posso dizer que estou livre de fatias deste mesmo passado que sejam capazes de frear o meu futuro.
Estou convencido de que uma coisa é ter o que se passou como referência e aí usamos nossos aprendizados, erros e acertos, para crescer ainda mais. É o pretérito como força propulsora do futuro.
Mas outra, bem diferente e perigosa, é quando este mesmo passado significa uma âncora que nos impede de crescer.
É muito fácil remoermos o que se passou e até mesmo idealizarmos momentos que se foram e que talvez estejamos certos de que devam voltar. Os estudos do comportamento humano dizem que isso se chama “Nostalgia” e esta palavra é uma boa pregadora de peças porque ser nostálgico não é errado e eu amo ter em mente a minha boa infância, o contato com meus pais, meus amigos mais íntimos, amo tudo o que um dia me deu a certeza de que vivi instantes extraordinários.
Mas ser nostálgico também tem um “quê” de tóxico quando de um lado não conseguimos romper os vínculos com o passado de felicidade (ou falsa felicidade), de idealização de uma vida que na verdade nem vivemos. Sabe aquela frase: “Ah, antigamente é que as coisas eram boas...”. Quando na verdade nem eram tão legais assim...
Aliás, o mercado adora surfar esta onda e vende muitos produtos e serviços com o apelo retrô. Uma “roupa” vintage no objeto faz com que ele saia de R$ 9,90 para R$ 49,90. E isso por aceitação plena do consumidor, esse ser que irá se sentir melhor no passado do que no presente.
De outro lado, ainda na toxicidade do pretérito, corre-se o risco de nunca viver uma vida plena, solta, livre e incrivelmente real. Pessoas que se amarram na nostalgia de um passado escravizante vivem presente e viverão futuros não menos escravizantes. Poderiam ser simplesmente felizes, mas se autossabotam.
Eu não estou livre disso, confesso. Mas tenho tido um esforço pessoal e um cuidado enorme com as fantasias que posso criar. Porque elas podem realmente nos prender a uma vida que nunca existiu e, pior, me colocar em um presente medíocre, sem desenvolvimento, sem evolução.
E aí que hoje, na dúvida, vale a frase de um professor: “Para trás, meu amigo, nem pra pegar impulso.” Afinal, você merece uma vida feliz e inédita!