Para zerar fila de ultrassonografias de mama, Executivo compra 1,5 mil exames

Com o objetivo de driblar uma cota mensal aquém da demanda, Prefeitura de Prudente assinou acordo com o Hospital Regional do Câncer; expectativa é sanar problema em 3 meses

PRUDENTE - ANDRÉ ESTEVES

Data 11/09/2018
Horário 04:01
José Reis - Contrato entre Prefeitura e HRC foi assinado na manhã de ontem
José Reis - Contrato entre Prefeitura e HRC foi assinado na manhã de ontem

Alegando que a cota mensal de exames de ultrassonografia de mama ofertados pelo Estado é “insuficiente” para atender a demanda local, a Prefeitura de Presidente Prudente assinou, na manhã de ontem, no Paço Municipal Florivaldo Leal, um contrato que viabiliza a realização de 1,5 mil procedimentos dentro do HRC (Hospital Regional do Câncer). O número representa a quantidade de mulheres que aguardam pelo exame na rede municipal. De acordo com o titular da Sesau (Secretaria Municipal de Saúde), Valmir da Silva Pinto, caso a administração não recorresse a esta alternativa, “muitas pacientes ficariam quase um ano na fila de espera”. Isso porque, atualmente, a Secretaria de Estado da Saúde oportuniza 80 ultrassonografias de mama por mês, mas os pedidos registrados ultrapassam esta soma e chegam a 100. “Ou seja, se não comprássemos os exames, esta fila nunca seria zerada”, expõe.

Por sua vez, a Secretaria de Estado da Saúde, por meio do Departamento Regional de Saúde, informa que no mês de agosto foram disponibilizadas 1.299 vagas para a realização de diversos tipos de mamografia e ultrassom para o município de Presidente Prudente, sendo que 1.277 foram agendados. “A Prefeitura poderia ter agendado outros 22 pacientes”. No entanto, a pasta não especifica a quantidade de exames de ultrassonografia de mama ofertados no período.

Nesse sentido, o Executivo deu abertura a um processo licitatório, por meio do qual o menor valor ofertado, inicialmente, foi de R$ 84 por exame, o que já é um valor abaixo do mercado. Posteriormente, no entanto, a Prefeitura foi procurada pelo HRC, que informou a viabilidade de realizar cada procedimento por R$ 24,20. Ao invés de gastar R$ 126 mil com os 1,5 mil exames, a municipalidade constatou que poderia atender esta demanda com R$ 36,3 mil, sagrando o hospital vencedor da licitação. A partir da assinatura, a expectativa é que o problema seja sanado em, no máximo, três meses.

Valmir relembra que, há pouco mais de 60 dias, a pasta inaugurou a UPA (Unidade de Pronto-Atendimento) da zona norte, que atende, em média, 325 pessoas por dia. Segundo ele, isso consome um “valor muito alto” dos cofres municipais, considerando que todo o custeio da unidade vem sendo feito pela Prefeitura, sem a presença das esferas estadual e federal. Além desta dificuldade, a secretaria notou que a fila de mulheres que aguardavam pelo exame estava longe do fim e o exame era de fundamental importância para detectar com clareza a existência ou não do câncer de mama. “Na época, conversei com o prefeito [Nelson Roberto Bugalho, PTB] e, se condoendo com a situação, ele pediu para que comprássemos os exames, hoje realizados por meio do HR [Hospital Regional Doutor Domingos Leonardo Cerávolo]”, explica.

O secretário argumenta que a realização dos procedimentos tem duas finalidades: dar alta para aquelas mulheres que apresentarem resultado negativo, livrando-as de todo e qualquer receio que possam ter; caso contrário, encaminhá-las imediatamente ao tratamento, seja por meio de um especialista, seja pela rede Hebe Camargo de Combate ao Câncer. “Vale ressaltar que, atualmente, não temos nenhuma fila de espera para o acompanhamento com mastologista”, ressalta. Valmir ainda esclarece que o contrato vigente é pontual e busca a execução dos 1,5 mil exames. “Se no futuro tivermos outra fila, provavelmente não permitiremos que ela cresça”, completa.

Valmir pontua que, homologado o acordo, o atendimento já é iniciado de imediato, mas obedece a uma fila, que será gerida pela central de agendamento da rede municipal de Saúde, responsável por enviar as guias para a convocação das pacientes.

“Marco histórico”

O presidente do HRC, Antonio da Cunha Braga, descreve este momento como um “marco histórico”, tendo em vista que é o primeiro contrato remunerado firmado entre o hospital e uma instituição pública como a Prefeitura. Para ele, a parceria sinaliza que o hospital “está pronto não para resolver, mas minimizar o problema da saúde pública de Presidente Prudente”. “Quando trazemos o atendimento oncológico do DRS-11 [Departamento Regional de Saúde] até nós, abrimos espaço de infraestrutura para dar suporte à fila de espera que hoje existe no hospital geral. Isso mostra que estamos em condições de ajudar a aliviar o problema”, considera.

“Sobraram vagas”

Por sua vez, a Secretaria de Estado da Saúde, por meio do Departamento Regional de Saúde, informa que no mês de agosto foram disponibilizadas 1.299 vagas para a realização de diversos tipos de mamografia e ultrassom para o município de Presidente Prudente, sendo que 1.277 foram agendados. “A Prefeitura poderia ter agendado outros 22 pacientes”. A pasta esclarece ainda que exames específicos para diagnóstico precoce do câncer de mama, por meio de realização de mamografias, ultrassonografias e biópsia, conforme a necessidade de cada paciente, são ofertados por meio do programa Mulheres de Peito, que possui quatro carretas-itinerantes que circulam pelo Estado, além de mais de 200 serviços de mamografias em equipamentos fixos do SUS (Sistema Único de Saúde) em São Paulo. Nesse caso, informa a pasta, o agendamento pode ser feito por meio de ligação para o callcenter da secretaria, pelo número 0800-7790000. O serviço telefônico está disponível de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h.

Ainda conforme a pasta, em Prudente, o programa realizou, desde o início de 2014, 2.319 mamografias, 73 ultrassons, nove biópsias e 23 encaminhamentos.

Mencionado, o Ministério da Saúde também foi procurado pela reportagem, no entanto, não enviou resposta até o fechamento desta edição.

NÚMEROS

R$ 24,20

é o valor ofertado pelo HRC para cada ultrassonografia

R$ 36,3 mil

é o valor total desembolsado para os procedimentos

1,5 mil

mulheres serão atendidas pelo contrato

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