Paralisação gera déficit de estoque na Ceagesp

Jose Reis - Sem novas mercadorias, Ceagesp lida com estoque remanescente; produtos têm alta no valor
Jose Reis - Sem novas mercadorias, Ceagesp lida com estoque remanescente; produtos têm alta no valor

Realizada em âmbito nacional, a manifestação dos caminhoneiros contra o preço do óleo diesel começa a afetar o comércio hortifrutigranjeiro em Presidente Prudente. No entreposto da Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo), permissionários estão com dificuldades para receber novas mercadorias e precisam recorrer a um estoque já defasado. A alta nos valores dos produtos foi a alternativa encontrada para lidar com a baixa oferta, que atinge alimentos como a batata, beterraba, cebola, cenoura e tomate, por exemplo.

De acordo com o gerente do entreposto, Ivandro Maciel Sanchez, o local movimenta diariamente 200 toneladas de mercadorias. Desde ontem, no entanto, este montante apresenta queda. Embora não saiba precisar em números, ele mostra a baixa quantidade de notas fiscais recebidas durante a manhã, o que demonstra o déficit no recebimento de cargas. A Apas (Associação Paulista de Supermercados) afirma que a paralisação já causou desabastecimento nos supermercados, especialmente no setor das frutas, legumes e verduras.

Conforme o fiscal da Ceagesp, Adilson da Silva Munhoz, há caminhões com destino a Prudente que estão parados no meio do caminho, enquanto há outros que ainda nem foram carregados e permanecem em seus pontos de origem. Ele conta que, por ora, os boxistas se desdobram com o que têm, mas acredita que até sexta-feira, dia mais forte para o comércio, haverá falta no estoque, principalmente por se tratarem de produtos perecíveis. “Temos um distribuidor de cenoura que não conseguiu chegar, então o pouco que os permissionários tinham exigiu a elevação dos preços”, relata. Ivandro, gerente do entreposto, complementa que o local não dispõe de um estoque regulador, portanto, toda a carga que entra precisa ser renovada em questão de dias. “Se recebemos mercadorias na segunda-feira, na quarta já temos a necessidade de produtos novos”, comenta.

A permissionária Dirce Sugano afirma que o caminhão que abastece o seu box está parado desde segunda-feira e, por esta razão, teve que adotar medidas para suprir a necessidade básica de seus clientes. “Reduzimos a oferta para o comércio e demos prioridade aos hospitais, onde estão pessoas que realmente precisam dos produtos”, expõe. A boxista destaca que, por enquanto, não há o que fazer a não ser apoiar os caminhoneiros, considerando que as condições de transporte estão “inviáveis”. “Eu acredito que a finalidade é realmente essa. Se o comércio e os consumidores não sentirem falta das mercadorias, os protestos não têm efeito”, pondera. Até o governo não apresentar uma devolutiva que agrade os manifestantes, a alta nos preços dos produtos é inevitável. Dirce utiliza como exemplo a batata, cujo quilo estava sendo comercializado por R$ 2,20 e saltou para R$ 4,40. “Ou seja, dobrou”, completa.

Por falar em falta de mercadorias, a reportagem questionou a Apas sobre a situação em Prudente. Por meio de nota, a associação lembra que além do desabastecimento no setor de frutas, legumes e verduras, que são perecíveis e de abastecimento diário, carnes e produtos industrializados também tiveram as entregas comprometidas pelos atrasos no reabastecimento. “A entidade espera resoluções imediatas para que a população não sofra com a falta de produtos de necessidade básica”, salienta.

 

Boxistas apoiam

O permissionário Valdir Grotto diz que as consequências começaram a ser observadas ontem. Ainda que seu box já esteja com falta de batata e cebola, ele não minimiza a importância do ato dos caminhoneiros. Pelo contrário, apoia que o movimento continue em andamento por mais 15 dias. “Quando estivermos, de fato, sem mercadorias, certamente irão perceber a importância desse transporte”, destaca.

Já o permissionário Livalnei Antônio Marques calcula um aumento de 30% nos valores dos produtos comercializados em seu box. Antes dos atos serem iniciados, ele vendia a caixa de 22 quilos de tomate por R$ 70. Agora, comercializa 18 quilos por R$ 80. “Tive que buscar um fornecedor em São Paulo, por isso o peso menor”, explica. O crescimento dos valores não é injustificado: “Meu estoque está praticamente zerado”, acrescenta.

O aposentado Valdevino Raimundo, 76 anos, esteve no entreposto ontem para acompanhar os preços dos produtos comercializados. Para ele, os manifestos devem influenciar diretamente no bolso do consumidor, porém, não desqualifica a mobilização dos caminhoneiros. “Acho que toda a classe trabalhadora deve apoiá-los”, denota o cliente, que acredita que as reivindicações não devem ser atendidas de imediato. “Infelizmente, o governo é mão de ferro. Enquanto isso, todos nós somos lesionados”, pontua.

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