Faço parte do vasto grupo de brasileiros apaixonados pelo Fusca. Eu cheguei em 1990 em Presidente Prudente com as minhas duas filhas pequenas dentro de um modelo 1979 depois de uma longa viagem desde São Paulo. Preciso explicar para os mais jovens que se trata de uma aventura de nove horas de percurso em pista simples em péssimo estado de preservação e desprovido de qualquer comodidade que se possa imaginar... Nem pensar em bancos de couro com ajuste de altura, vidros elétricos com desembaçadores, kit multimídia com bluetooth, ar condicionado ou qualquer outro conforto dos carros mais modernos!
Os instrumentos do painel eram bem simples, resumindo-se em dois mostradores. O maior era circular e ficava logo acima da barra do volante, para o velocímetro, o odômetro e luzes de advertência. O outro menor era quadrado e ficava logo à direita do primeiro, para o marcador de gasolina. Hoje é difícil acreditar, mas passávamos o tempo diante daquele painel sem graça, contando histórias, inventando brincadeiras com adivinhação e memória, cantando músicas antigas.
O primeiro carro do meu pai também foi um fusca. Era azul e do modelo 1965, o último ano da produção do motor 1200 (aquele motor de quatro cilindros com os pistões e bielas opondo-se dois a dois). E, curiosamente, foi com seu fusquinha que ele saiu lá de Uberlândia em 1967 para definir os detalhes da nossa mudança para São Paulo.
Observando as famílias em viagem pelas estradas na véspera das festas natalinas, fiquei pensando em muitas histórias com os fuscas. As rodovias até Presidente Prudente estão bem movimentadas. Repletas de automóveis com bagageiros carregados de bicicletas, carrinhos de bebê. Dentro dos veículos, muitos presentes e crianças. Quanta animação...
Essas cenas divertidas me fazem lembrar dos diversos domingos na praia de Santos com toda a família. Não sei como o meu pai conseguia, mas íamos de São Paulo até litoral de Fusca. Não bastasse os seus cinco filhos, não era raro ele também levar a minha avó, a minha tia e prima. Eu ia junto com a minha irmã mais nova no bagageiro que ficava atrás do banco posterior (literalmente em cima do motor!). O meu irmão ainda era um bebê e viajava no colo da minha mão lá na frente. Cinto de segurança? Airbag? Nem pensar! E lá íamos nós pela estrada de Santos. Já dizia a canção de Roberto Carlos: “Se você pretende saber quem eu sou/ Eu posso lhe dizer/ Entre no meu carro, na estrada de Santos/ E você vai me conhecer…”