Em Presidente Prudente, uma pesquisa realizada na FCT/Unesp (Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista) mostrou que a infecção de síndrome respiratória aguda grave, denominada como SARS-CoV-2, pode causar alterações severas no sistema imunológico até mesmo em pessoas jovens e saudáveis, que tenham tido quadros leves ou estáveis da Covid-19.
O projeto "Fit Covid", apoiado pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), envolve pesquisadores de instituições paulistas, e Universidade de Coimbra e Instituto Politécnico de Coimbra, em Portugal, que avaliaram células de defesa de indivíduos não vacinados entre 30 e 180 dias após a infecção. O estudo conta com os pesquisadores da FCT/Unesp, Fábio Santos de Lira, Luís Alberto Gobbo, Diego Giulliano Destro Christófaro, Rômulo Araújo Fernandes e a pós-doutoranda Bruna Spolador de Alencar Silva, bolsista da Fapesp.
“Partimos da intenção de aprofundar os efeitos da Covid-19 nos sistemas imune, vascular e nervoso autônomo, que controla a respiração, circulação sanguínea e outras funções vitais, em pessoas com menos de 40 anos que apresentaram estado moderado do vírus pandêmico. A proposta é de acompanhar o impacto da doença após dois anos do contágio”, explica o professor do curso de Educação Física da FCT, Fábio Santos de Lira.
Para a pesquisa, o grupo recrutou pacientes que foram infectados pelo SARS-CoV-2 e pacientes que não contraíram o vírus. Após sequência de testes, realizaram uma série de experimentos. “Todos tiveram que fazer o teste de PCR para saber se já tinham a doença. Após nos certificarmos de quem estava ou não infectado, retiramos o sangue deles e isolamos as células imunológicas, como as células mononucleares do sangue periférico chamado de PBMC. A partir disso, realizamos experimentos, como a citometria de fluxo, que é uma técnica que identifica o tipo de células imunes e as suas características. Então, descobrimos que as células imunes, principalmente linfócitos T dos pacientes infectados, estavam com uma marcação de células velhas, chamadas imuno senescentes, em que a marcação dessa proteína de morte celular estava aumentada”, afirma o professor.
Fábio esclarece que, com os experimentos, as células de defesa dos pacientes infectados pelo vírus estavam em exaustão, o que trouxe surpresa aos pesquisadores, visto que são pessoas jovens e saudáveis. “Outro experimento que fizemos foi a cultura de células, em que avaliamos a funcionalidade das células in vitro. Temos uma sala de cultura de célula primária na Educação Física e ali estimulamos a produção de citocinas e observamos que, quando as células imunes eram dos pacientes da Covid-19, elas não tinham a mesma resposta que as células dos pacientes de controle, que não tinham sido infectados. É algo semelhante ao que acontece com as células de pessoas com obesidade de grau 2 ou 3, ou que possuem doenças crônicas, como diabetes, ou até mesmo já idosas. Mas é algo completamente inesperado para pessoas jovens e sem problemas de saúde ter essas células imunes em estado de exaustão”, explica.
Após realizar a primeira fase do estudo, os pesquisadores darão início ao segundo momento do trabalho, ainda no segundo semestre, que consiste em avaliar as células imunes de atletas olímpicos que não foram infectados pelo SARS-CoV-2 antes de serem vacinados. “Vamos isolar as células imunológicas de atletas olímpicos e, a partir disso, pegaremos o soro que coletamos antes e depois da vacina. Então, vamos conferir se ela vai desafiar a célula do atleta e ver se prejudica ou não a sua funcionalidade, além de observar se essas células têm capacidade de amenizar os efeitos pró-inflamatórios”, pontua o professor.
Há ainda a intenção de realizar comparações semelhantes entre brasileiros e portugueses, na cidade de Coimbra, em Portugal, em estudo que ficará a cargo da professora Bruna Spolador, aluna do pós-doutorado em Ciências da Motricidade pela FCT/Unesp e bolsista da Fapesp.