Em Presidente Prudente, uma mãe produz pesquisa envolvendo seu filho com superdotação, que, em menos de dois anos, conquistou 142 medalhas em olimpíadas científicas no Brasil e exterior. A professora Josiane Luzia Mendonça dos Santos está desenvolvendo o estudo "Educação inclusiva, cultura maker e educação ambiental: processos formativos para crianças com dupla excepcionalidade na perspectiva da arte e da cultura".
Seu doutorado, iniciado na FCT/Unesp (Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista) em Presidente Prudente, prossegue na Unoeste (Universidade do Oeste Paulista), por acompanhar a sua orientadora Elisa Tomoe Moriya Schlünzen, que se aposentou na universidade pública e continua sua carreira de professora pesquisadora na particular.
A situação-problema do estudo está relacionada à falta de preparo dos professores para lidar com a dupla excepcionalidade, conforme a orientadora, que também é coordenadora do PPGE (Programa de Pós-Graduação em Educação).
A dupla excepcionalidade é uma condição em que a criança apresenta AH/SD (altas habilidades/superdotação) juntamente com alguma deficiência, transtorno do neurodesenvolvimento ou dificuldade de aprendizagem.
Elisa diz que, mais especificamente, o projeto busca responder sobre o que fazer para preparar os docentes que já possuem a graduação normal para trabalharem efetivamente a educação inclusiva de crianças com dupla excepcionalidade.
“A formação inicial é insuficiente e a continuada precisa ser prática, contextualizada e integradora de abordagens como cultura maker, educação ambiental, arte e cultura para atender às necessidades dessas crianças de forma significativa”, aponta.
Conforme a orientadora, o envolvimento de mãe e filho tem relevância acadêmica, pessoal e social. A autora é mãe de uma criança com dupla excepcionalidade, com autismo e AH/SD, e também apresenta dupla excepcionalidade, em menor grau.
São condições que proporcionam vivência concreta e sensível dos desafios enfrentados tanto no papel de educadora quanto de mãe, de acordo com a orientadora, que aponta ainda outros fatores significativos.
“Base experiencial autêntica para investigar a formação de professores e propor soluções viáveis e exemplo de superação e pesquisa com envolvimento emocional e compromisso social, algo que confere maior profundidade e legitimidade à proposta”, avalia.
Cita também que é uma contribuição para pesquisas ainda incipientes no Brasil sobre a coexistência de condições como AH/SD e autismo e sua interface com políticas públicas e práticas escolares.
“Acredito que a experiência pessoal alimenta e fundamenta a pesquisa, tornando-a mais potente e conectada à realidade”, comenta, para testemunhar a relevância de relações afetivas, observadas em seus 37 anos como pesquisadora.
“Observo que as pesquisas que mais tiveram sucesso são aquelas em que havia envolvimento afetivo, principalmente quando uma mãe e um pai buscam soluções de forma totalizadora para o desenvolvimento e melhorias para os seus filhos”, conclui a orientadora.
O filho de Josiane é Miguel Rosa dos Santos, diagnosticado com autismo aos sete anos de idade e AH/SD aos oito anos. Hoje, tem 10. A família mudou-se de Mirante do Paranapanema para Prudente, por causa do Miguel.
O pai Ricardo Rosa dos Santos é policial militar. A primogênita Maria Yasmin é recém-formada médica. O filho José Ricardo cursa Direito na Unoeste. O casal teve o Joaquim, que nasceu prematuro e viveu dois anos e meio.
A vinda para Prudente possibilitou aproveitar a liberação da Unesp para Miguel assistir aulas na graduação e pós-graduação em Física, como ouvinte. Boa parte do seu tempo é dedicado para estudar física quântica, nanotecnologia e engenharia.
Aos sete anos, Miguel ganhou prêmio do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), como uma das 10 crianças brasileiras prodígios em ciência, engenheira e tecnologia. Ganhou mentoria do ITA, na qual foi estimulado a participar de olimpíadas, aos oito anos.
Começou e não parou - sempre acompanhado pela mãe, que sabe estabilizá-lo quando fica desregulado. Mais recentemente, Miguel esteve em Singapura e nos Estados Unidos, na Universidade Columbia, ganhando medalhas e menção honrosa.
No último domingo, esteve no programa Domingão com Huck, na Rede Globo. Participou do quadro Pequenos Gênios. Teve um momento de desregulação, foi estabilizado e seguiu até o final. Miguel estuda no Sesi (Serviço Social da Indústria) Furquim.
Josiane é formada em Letras e Pedagogia. Seu título de mestra é em Letras. Possui algumas especializações. No doutorado em Educação, pretende contribuir com a educação inclusiva de crianças com dupla excepcionalidade.