Pesquisa sobre inclusão envolve mãe e filho com superdotação

Foco do estudo da professora Josiane Luzia Mendonça dos Santos, mãe do prodígio Miguel Rosa, está no preparo docente para trabalhar com crianças com dupla excepcionalidade

PRUDENTE - DA REDAÇÃO

Data 07/08/2025
Horário 16:29
Foto: Cedida
Professora Josiane e o filho com superdotação, Miguel Rosa
Professora Josiane e o filho com superdotação, Miguel Rosa

Em Presidente Prudente, uma mãe produz pesquisa envolvendo seu filho com superdotação, que, em menos de dois anos, conquistou 142 medalhas em olimpíadas científicas no Brasil e exterior. A professora Josiane Luzia Mendonça dos Santos está desenvolvendo o estudo "Educação inclusiva, cultura maker e educação ambiental: processos formativos para crianças com dupla excepcionalidade na perspectiva da arte e da cultura".

Seu doutorado, iniciado na FCT/Unesp (Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista) em Presidente Prudente, prossegue na Unoeste (Universidade do Oeste Paulista), por acompanhar a sua orientadora Elisa Tomoe Moriya Schlünzen, que se aposentou na universidade pública e continua sua carreira de professora pesquisadora na particular.

A situação-problema do estudo está relacionada à falta de preparo dos professores para lidar com a dupla excepcionalidade, conforme a orientadora, que também é coordenadora do PPGE (Programa de Pós-Graduação em Educação).

A dupla excepcionalidade é uma condição em que a criança apresenta AH/SD (altas habilidades/superdotação) juntamente com alguma deficiência, transtorno do neurodesenvolvimento ou dificuldade de aprendizagem.

Preparação de professores

Elisa diz que, mais especificamente, o projeto busca responder sobre o que fazer para preparar os docentes que já possuem a graduação normal para trabalharem efetivamente a educação inclusiva de crianças com dupla excepcionalidade.

“A formação inicial é insuficiente e a continuada precisa ser prática, contextualizada e integradora de abordagens como cultura maker, educação ambiental, arte e cultura para atender às necessidades dessas crianças de forma significativa”, aponta.

Conforme a orientadora, o envolvimento de mãe e filho tem relevância acadêmica, pessoal e social. A autora é mãe de uma criança com dupla excepcionalidade, com autismo e AH/SD, e também apresenta dupla excepcionalidade, em menor grau.

São condições que proporcionam vivência concreta e sensível dos desafios enfrentados tanto no papel de educadora quanto de mãe, de acordo com a orientadora, que aponta ainda outros fatores significativos.

“Base experiencial autêntica para investigar a formação de professores e propor soluções viáveis e exemplo de superação e pesquisa com envolvimento emocional e compromisso social, algo que confere maior profundidade e legitimidade à proposta”, avalia.

Contribuição nacional

Cita também que é uma contribuição para pesquisas ainda incipientes no Brasil sobre a coexistência de condições como AH/SD e autismo e sua interface com políticas públicas e práticas escolares.

“Acredito que a experiência pessoal alimenta e fundamenta a pesquisa, tornando-a mais potente e conectada à realidade”, comenta, para testemunhar a relevância de relações afetivas, observadas em seus 37 anos como pesquisadora.

“Observo que as pesquisas que mais tiveram sucesso são aquelas em que havia envolvimento afetivo, principalmente quando uma mãe e um pai buscam soluções de forma totalizadora para o desenvolvimento e melhorias para os seus filhos”, conclui a orientadora.

O filho de Josiane é Miguel Rosa dos Santos, diagnosticado com autismo aos sete anos de idade e AH/SD aos oito anos. Hoje, tem 10. A família mudou-se de Mirante do Paranapanema para Prudente, por causa do Miguel.

O pai Ricardo Rosa dos Santos é policial militar. A primogênita Maria Yasmin é recém-formada médica. O filho José Ricardo cursa Direito na Unoeste. O casal teve o Joaquim, que nasceu prematuro e viveu dois anos e meio.

Estímulo para competir

A vinda para Prudente possibilitou aproveitar a liberação da Unesp para Miguel assistir aulas na graduação e pós-graduação em Física, como ouvinte. Boa parte do seu tempo é dedicado para estudar física quântica, nanotecnologia e engenharia.

Aos sete anos, Miguel ganhou prêmio do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), como uma das 10 crianças brasileiras prodígios em ciência, engenheira e tecnologia. Ganhou mentoria do ITA, na qual foi estimulado a participar de olimpíadas, aos oito anos.

Começou e não parou - sempre acompanhado pela mãe, que sabe estabilizá-lo quando fica desregulado. Mais recentemente, Miguel esteve em Singapura e nos Estados Unidos, na Universidade Columbia, ganhando medalhas e menção honrosa.

No último domingo, esteve no programa Domingão com Huck, na Rede Globo. Participou do quadro Pequenos Gênios. Teve um momento de desregulação, foi estabilizado e seguiu até o final. Miguel estuda no Sesi (Serviço Social da Indústria) Furquim.

Josiane é formada em Letras e Pedagogia. Seu título de mestra é em Letras. Possui algumas especializações. No doutorado em Educação, pretende contribuir com a educação inclusiva de crianças com dupla excepcionalidade.

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