Pesquisadores do interior mudam a rotina para apoiar saúde pública

Contexto Paulista

COLUNA - Contexto Paulista

Data 06/05/2020
Horário 08:00

Todos os dias, às 5h, o professor Carlos Ferreira dos Santos, diretor da Faculdade de Odontologia de Bauru, da USP (Universidade de São Paulo), acorda para um encontro marcado com o novo coronavírus. Toma o café e segue para um laboratório na cidade, onde uma nova série de amostras de pacientes com suspeita de Covid-19 aguarda para ser processada. A rotina, descrita esta semana pelo “Jornal da USP”, faz parte do esforço de apoio à saúde pública em unidades que integram uma rede universitária de diagnóstico da Covid-19 no interior paulista. Além da FOB em Bauru, participam do projeto a Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos, em Pirassununga, e o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto.

Cinco horas de concentração total
A camisa social dá lugar aos equipamentos de proteção individual (EPIs) - luvas, avental, viseira, máscara - e assim o trabalho do professor Carlos começa, sempre às 6h, para garantir que os resultados estejam disponíveis no mesmo dia. Acompanhado da aluna de doutorado Thais Garbieri, igualmente paramentada, para evitar qualquer tipo de contaminação, ele realiza uma série de procedimentos bioquímicos para extrair o material genético do vírus das amostras e prepará-lo para ser levado de forma segura a um outro laboratório da faculdade, onde será realizado o exame de detecção por RT-PCR. De acordo com a reportagem, são cinco horas ininterruptas de trabalho e concentração extrema. “É como se estivéssemos atendendo pacientes contaminados em um hospital”, diz Carlos. “Então, todo cuidado é absolutamente necessário”.

Doações de empresas
O Adolfo Lutz de Bauru recebe as coletas de 38 municípios da região e compartilha essas amostras com a FOB e o ILSL (Instituto Lauro de Souza Lima), também do governo do Estado. Os resultados da FOB são emitidos em 24 horas. O trabalho é financiado com recursos da própria faculdade e doações de empresas locais, que já ultrapassaram R$ 55 mil. Os recursos estão sendo usados prioritariamente para a compra de insumos essenciais, como kits de reagentes e equipamentos de proteção, indispensáveis para a realização dos exames. “A maior honra para um pesquisador é poder colocar a estrutura de pesquisa da USP a serviço da população”, diz o pesquisador.

Adolfo Lutz engajado
As unidades da USP já realizaram cerca de 1,8 mil testes moleculares de Covid-19 para pacientes e profissionais de saúde de mais de 50 municípios, em colaboração com as autoridades de saúde locais e o Instituto Adolfo Lutz, instituição de referência do governo estadual para o monitoramento de doenças infecciosas. A coordenação é do Instituto Butantan, de São Paulo.

Pirassununga
Dois laboratórios de biologia molecular da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos, que já tinham a qualificação de biossegurança necessária (NB2) para trabalhar com o novo coronavírus, foram redirecionados para a testagem de Covid-19, em parceria com as autoridades de saúde locais. Cerca de 300 amostras já foram processadas desde o dia 15 de abril, com 18 resultados positivos, segundo os professores Heidge Fukumasu e Helena Lage Ferreira, que coordenam o trabalho. O atendimento já contempla oito pequenos municípios da região, e outros dez estão em fase de negociação com a faculdade.

 Ribeirão Preto
A USP de Ribeirão Preto foi uma das primeiras instituições públicas a realizar testes moleculares de Covid-19 no interior paulista. Cerca de 1,2 mil exames já foram realizados desde 19 de março, com 13% de positivos, segundo o médico Rodrigo do Tocantins Calado. Os exames são realizados nos laboratórios de virologia e de biologia molecular. São oito pessoas em cada laboratório em média, sete dias por semana. Os resultados dos exames colhidos pela manhã são liberados no mesmo dia, e os exames colhidos à tarde têm o resultado na manhã seguinte. Em geral, os resultados são liberados em 12 horas.

Telemedicina em Botucatu
O Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu, da Unesp (Universidade Estadual Paulista), passou a atender por telemonitoramento. Suzana Erico Tanni, uma das responsáveis pelo procedimento, explica que os pacientes são acompanhados para verificar a condição do quadro respiratório, orientar e sanar dúvidas que eles possam ter, além de identificar precocemente aqueles que merecem ser avaliados mais profundamente com atendimento presencial, de forma ordenada, “a fim de evitar a exposição dos pacientes aos potenciais riscos durante a pandemia”.

Mundo pós-coronavírus
“O mundo está se transformando com essa pandemia, inclusive no campo digital”, diz Raquel Franco Zambom, gerente de Sistemas do Centro de Informática Médica do hospital. “Com a adoção do home office, teletrabalho, teleatendimento, aulas on-line, conferências e reuniões virtuais, mesclando ferramentas já conhecidas com as que ainda estamos descobrindo, conseguiremos minimizar os impactos, usando com sabedoria a tecnologia a favor do hospital e do paciente”.

Parceria com a Embraer
A Unesp e a Embraer firmaram parceria para viabilizar o processamento de 40 mil testes de diagnóstico de Covid-19 nas regiões de São José dos Campos, Araraquara e Botucatu.

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