Com cerca de 50 metros, a ponte de dossel (também conhecida como passagem de fauna) sobre a rodovia SPV-035, no km 59, em Presidente Epitácio, conecta fragmento florestal remanescente à área restaurada no munícipio e, dessa forma, possibilita que espécies arborícolas – que vivem nas árvores e não costumam descer no chão da floresta – realizem travessias em segurança.
A ação é do Programa de Conservação do Mico-leão-preto, iniciativa do IPÊ (Instituto de Pesquisas Ecológicas), com foco na espécie – ameaçada de extinção – que dá nome ao programa, mas também tem o potencial de beneficiar outros animais encontrados na região, como o tamanduá-mirim (Tamandua tetradactyla), por exemplo.
A ponte conecta a reserva legal da Fazenda San Maria ao corredor restaurado que leva a um dos fragmentos que compõem a Estação Ecológica Mico-leão-preto (unidade de conservação gerida pelo ICMBio), mas que atualmente não abriga a espécie. A ação integra as iniciativas do IPÊ para conectar as populações que vivem em áreas ao norte do Parque Estadual Morro do Diabo (Fundação Florestal de São Paulo).
Gabriela Rezende, coordenadora do Programa de Conservação do Mico-leão-preto, explica que a ponte é uma estratégia com potencial de contribuir para que, a partir da maior movimentação dos micos-leões-pretos, eles possam ocupar novas áreas de floresta, chegando a fragmentos em que não estão presentes.
“A instalação da primeira ponte representa um avanço estratégico para a conservação do mico-leão-preto. Ela complementa os corredores restaurados ao possibilitar o cruzamento seguro de rodovias por animais que têm dificuldade de se locomover no chão para alcançar novas áreas de florestas. A partir desse momento, nossa expectativa é que essa estrutura possibilite a ampliação das áreas de floresta ocupadas pelos micos, possibilitando o crescimento dessas pequenas populações e, assim, reduzindo seu risco de extinção”.
Foto: IPÊ - Detalhe da ponte de dossel para passagem de fauna
Para o desenvolvimento da estrutura, a coordenação do programa convidou a equipe da ViaFauna, liderada por Fernanda Abra, pesquisadora associada ao IPÊ e especialista em pontes para primatas. Com o Projeto Reconecta, Fernanda já instalou cerca de 40 pontes de dossel na Amazônia. A instalação da ponte na região do Pontal do Paranapanema, confeccionada em cordas e cabos de aço, ficou a cargo da empresa TecTom BR Comércio e Soluções, com apoio da Prefeitura de Presidente Epitácio. A equipe também instalou câmeras trap nas áreas de travessia como forma de registrar as espécies que vão utilizá-la.
A instalação de pontes de dossel está entre as estratégias-chave para reduzir os impactos da fragmentação do habitat e consta como ação relacionada no PAN PPMA (Plano de Ação Nacional para a Conservação dos Primatas e Preguiças da Mata Atlântica), coordenado pelo CPB (Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Primatas Brasileiros), do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade).
Leandro Jerusalinsky, coordenador do CPB/ICMBio, destaca a importância da implementação desta ação como parte da política pública prevista no PAN PPMA. “A restauração de corredores florestais está entre as estratégias cruciais para mitigar os impactos da fragmentação de habitats, mas muitas vezes a gente se depara com situações de impacto que não podem esperar o tempo necessário para o crescimento de um corredor florestal, 20, 30 anos. Com isso, a instalação de passagens de dossel está entre as medidas emergenciais que têm se mostrado eficientes para reduzir esses impactos, em especial para primatas, mas também para outros animais. A estratégia tem o potencial de aumentar a mobilidade dos animais e reduzir os riscos de colisões veiculares com fauna e eletrocussões e, claro, trazendo benefícios demográficos e genéticos para aumentar a viabilidade dessas populações”, esclarece.
Paulo Roberto Machado, gestor da ESEC MLP (Estação Ecológica Mico-leão-preto), gerida pelo ICMBio, reforça a relevância da estratégia. “Com essa ação, ultrapassamos as barreiras físicas que, no caso, são as estradas. Do lado onde está a Estação Ecológica Mico-leão-preto, temos quase 200 hectares implementados em área de APP [área de preservação permanente] e reserva legal com restauração florestal que estão praticamente conectados ao fragmento Santa Maria da ESEC. A ESEC é dividida em quatro fragmentos com mais de 1.000 hectares cada e esses corredores têm permitido a conexão entre essas áreas isoladas de floresta. Essa passagem sobre a rodovia fecha um elo importante para as espécies que agora podem transitar por essas florestas da região em segurança”, diz.
Foto: IPÊ - Estratégia faz parte do programa de conservação do mico-leão-preto na região
O Programa de Conservação do Mico-leão-preto reforça que essa conquista só foi possível a partir das parcerias com Fazenda San Maria, Prefeitura Municipal da Estância Turística de Presidente Epitácio, ViaFAUNA Consultoria Ambiental, Cart (Concessionária Auto Raposo Tavares), CPB/ICMBio, ICMBio, Fundação Florestal do Estado de São Paulo e TecTom BR Comércio e Soluções. A instalação da estrutura foi viabilizada com financiamento de Durrell Wildlife Conservation Trust e Disney Conservation Fund.