Por uma década no jornal O Imparcial

Estou completando uma década como cronista e articulista no jornal O Imparcial. Escrevo semanalmente desde abril de 2009. Meus artigos são elaborados a partir de experiências emocionais vividas no meu dia a dia. São abordagens que surgem espontaneamente a respeito da vida e suas vicissitudes. Atenta aos conflitos, expressões, manifestações, transtornos mentais e estranhas formas de sobrevivência do ser sociocultural chamado humano, pretendo nesse artigo relembra-los do meu artigo inaugural chamado “A Bienal do Vazio”.

Vou transcrevê-lo na íntegra. Ao lê-lo novamente em meus arquivos, o achei muito interessante, porém, surgiu o desejo de alterar alguns pequenos detalhes, mas contive-me. É inerente que, diante do tempo, enquanto vivos estamos, somos crisálidas submetidas à metamorfose. Como diz Raul Seixas: “Prefiro ser, essa metamorfose ambulante. Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo... Se hoje sou estrela amanhã já se apagou, se hoje eu te odeio amanhã lhe tenho amor...”.

De lá para cá, muitas mudanças, transformações, foram acontecendo comigo, com você leitor, e no mundo. Preferi deixa-lo original e sem nenhuma alteração. Esse foi meu artigo: Observei o vazio na exposição da Bienal do vazio. Mas que vazio é este que estão expondo? Qual será o real propósito? Vi dois adolescentes pela televisão, grafitando muretas pertencentes à mostra do vazio, talvez expressando um desconforto com as ausências das obras. Imediatamente iniciei reflexões subjetivas sobre os espaços do nosso mundo psíquico.

Adolescentes não suportam tampouco se conformam com vazios, o limiar de tolerabilidade é ínfimo e a todo custo anseiam por satisfação de seus desejos e impulsos de forma desenfreada. Não conseguindo em nenhum momento parar para pensar no quanto é importante este vazio que antecede a ação. Freud em seu artigo “O mal estar na civilização (1930)”, já antecipava sobre este fato. Também escrevia como o homem teria um grande confronto com o principio do prazer versus o principio da realidade.

É importante permanecer alguns instantes num vazio, para muitas vezes encontrar nossa própria identidade. Hoje temos pressa, conflitos contemporâneos impedem o espaço para reflexão. Precisamos a todo custo preencher este vazio que muitas vezes nos aniquila, não sabemos transitar sobre o que desejamos e o que podemos ter de real.

Queremos a satisfação imediata e a diversidade em que se abrem as formas para realização são muitas. Drogas lícitas ou ilícitas, compulsão por compras num consumismo desvairado, busca pela forma perfeita injetando anabolizantes e outros ácidos onde muitas vezes as pessoas querem vender uma imagem, mas não sabem estabelecer relações de diálogos e vínculos. Busca pelo corpo ideal nem que isto custe à perda até mesmo da original expressão facial. O Vazio da Bienal faz um apelo talvez. É necessário dar sentido e significado em nossas vidas para os vazios que suscitam no dia a dia. Precisamos nomeá-los. É preciso enxergar que este vazio está cheio.

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