Preço da cesta básica impacta restaurantes na retomada 

Dos três estabelecimentos ouvidos pela reportagem, todos sentem o impacto financeiro do alto valor das matérias-primas e dois já repassaram parte do aumento aos clientes

PRUDENTE - MARCO VINICIUS ROPELLI

Data 09/10/2020
Horário 06:38
Cedida - Restaurante de Thais retornou à atividade presencial em 8 de setembro 
Cedida - Restaurante de Thais retornou à atividade presencial em 8 de setembro 

Está na boca do povo os sustos do dia a dia: se em meses atrás era sair às ruas e encontrar pessoas sem máscara, agora tem sido ir ao mercado e observar o preço da cesta básica. Em Presidente Prudente, conforme explica a proprietária do restaurante Tempero Manero, Thais Lima de Andrade, 32 anos, apesar do grande vilão dos últimos dias ser o arroz, todos os produtos que são matérias-primas para exportação (commodities) apresentaram elevação substancial. 
Com os produtores brasileiros preferindo, por questões financeiras, vender os produtos cotados em dólar para o mercado internacional a abastecer o mercado interno, produtos como óleo, farinha e laranja também têm subido. Conforme Thais, os custos com matéria-prima para manter o restaurante subiram, desde o início da pandemia, cerca de 30% e, por isso, a empresária foi obrigada a reajustar o preço de seu “buffet à vontade” em R$ 2, o que representa 10% acima do que era. Portanto, o déficit ainda é de 20%. 
“Consegui equilibrar dessa maneira. Não quer dizer que ganhamos mais, é para não deixar o buraco maior ainda”, ressalta Thais. O “buraco” que ela cita no sentido figurado vem sendo cavado desde que a pandemia começou e estabelecimentos como o dela precisaram ficar de portas fechadas por cerca de seis meses, algo sem precedentes. “Criamos o delivery, mas não tínhamos a tradição, então, foi difícil”, lembra. 
Da mesma forma, o proprietário do restaurante Don Tavares, Rafael Seribeli, de 33 anos, afirma que também tem visto os custos dos produtos que usa para abastecer a cozinha subindo, mas ainda não repassou o aumento aos clientes por dois motivos: a concorrência de marmitarias que surgiram devido ao desemprego causado pela pandemia e que produzem nas próprias casas (sem impostos e sem aluguel – o que abaixa os custos); e para evitar causar sustos nos clientes, visto que muitos enfrentam momentos financeiros difíceis, também por conta dos efeitos econômicos da quarentena. 
Outro que já fez reajuste de 10% é o restaurante Dom Papito, propriedade do empresário Aparecido Santos Dal Olio, 48 anos, porque, segundo ele, sem o repasse, o restaurante não teria como repor os produtos, ainda mais frente ao momento de dificuldade, tendo em vista que, durante a pandemia, como conta Aparecido, o movimento no estabelecimento caiu em 60%.

Substituições não resolvem

Sobre as estratégias que têm sido adotadas pelos restaurantes para minimizar os impactos do preço da cesta básica, Aparecido é taxativo: “Tem alguns produtos que dá para substituir, mas arroz e feijão não tem como”.  Da mesma opinião, Rafael afirma que tem acompanhado alta nos preços de todos os produtos, desde hortifrutis até carnes. “Não tem onde recorrer”, afirma.
Essa dificuldade de encontrar saídas é exemplificada por Thais justamente em relação às carnes. Mesmo as carnes brancas estando mais em conta que as vermelhas, elas também subiram. Mesmo assim, ela afirma estar fazendo variações no cardápio, dando ênfase, principalmente, a ingredientes da estação, respeitando a sazonalidade. 
De qualquer forma, segundo a empresária, tais estratégias acabam encontrando certa resistência em clientes que vão aos restaurantes em busca de comer o que não estão comendo em casa. É o caso, segundo ela, da carne vermelha, cujo consumo doméstico, devido ao preço, tem diminuído. 
A condição financeira é uma das principais balizas do atual contexto, mas outra variável apareceu. Thais afirma que, em seu restaurante, tem precisado lidar com algo que nunca imaginou: o medo dos clientes, em relação à Covid-19. Por conta disso, mesmo envoltos a tantas dificuldades desta retomada, os restaurantes precisam criar, inovar, de modo a atrair os clientes, ainda receosos. 

Foto: Cedida

alta nos preços da cesta básica impactam restaurantes de presidente prudente

Rafael destaca a concorrência e a situação financeira dos clientes como motivos para segurar repasse 

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