O Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina de 2025 foi atribuído a três pesquisadores que estudaram o funcionamento do sistema imune e seus “freios” para que não ataque as células do próprio corpo, como acontece em algumas situações (ex. doenças autoimunes). Para a maioria das pessoas, uma característica do sistema imune que pode ser ainda mais interessante, pelo fato de ser prejudicial, é seu envelhecimento (immune aging) e perda da eficiência.
IMMUNE AGING
A característica de envelhecimento do sistema imune (immunosenescence) tem assumido maior relevância em razão do aumento do número de idosos. O sistema imune inato e adaptativo fica gradativamente disfuncional, perdendo a eficiência em combater infecções causadas por antígenos e as células tumorigênicas, que evoluem para o câncer. Além disso, o mecanismo de “freio” que diminui o risco de doenças autoimunes também perde sua eficiência. Por fim, as citocinas produzidas pelas células brancas (leucócitos) causam um estado de inflamação crônica sistêmica, denominado de inflamação do envelhecimento (inflammaging).
INFLAMMAGING
É uma alteração do sistema imune que passa a ter atividade pró-inflamatória cada vez mais aumentada, assim como autorreatividade, ou seja, pode combater e destruir células do próprio corpo, levando às doenças autoimunes. Gradativamente, o sistema imune vai se tornando um defensor menos eficiente e passa a contribuir para disfunção sistêmica e surgimento de doenças. A inflamação crônica sistêmica fica cada vez mais pronunciada e provoca doenças cardiovasculares, metabólicas e neurodegenerativas.
Idosos (+64 anos) que realizavam treinamento físico de endurance nas décadas anteriores tinham o sistema imune mais eficiente
INFECÇÕES E DOENÇAS CRÔNICAS
O papel do sistema imune é combater células tumorigênicas e antígenos, evitando o câncer e infecções, no entanto, na fase da senescência e capacidade e eficiência diminuem, como ficou caracterizado durante a pandemia da Covid-19, quando a infecção costumava se agravar em maior proporção nos pacientes idosos. Curiosamente, na fase da senescência o sistema imune passa a ser um disparador de doenças crônicas.
EXERCÍCIO FÍSICO
Desde a década de 1980 é conhecida a relação benéfica entre exercício físico e sistema imune, ou seja, modulação positiva deste último por meio da prática regular de exercícios. A exceção é para exercícios de intensidade média-alta e prolongados (+2h), que causam imunossupressão temporária. Mais recentemente, a obesidade foi relacionada com menor eficiência do sistema imune. A obesidade e o sedentarismo foram também relacionados com o envelhecimento precoce e disfunção do sistema imune.
SISTEMA IMUNE “TREINADO”
Estudo publicado em 2025 por pesquisadores da FCT Unesp e da Alemanha demonstrou que idosos (média de 64 anos) que realizavam treinamento físico de endurance nas décadas anteriores tinham o sistema imune (particularmente as células natural Killer – NK) mais eficiente do que os sedentários da mesma idade. As células NK não estão “envelhecidas”, respondem melhor aos antígenos e a resposta inflamatória para estímulos é menos exacerbada do que ocorre nos idosos sedentários, o que diminui o risco de doenças metabólicas. Por isso, treine os músculos enquanto é adulto jovem ou de meia idade para treinar também o sistema imune para a senescência.
Referências
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