Filho de agricultores, Narciso Antonio da Silva desde os 11 e 12 anos de idade já se encantava por pimentas cultivadas entre os cafezais na região de Pompeia, onde vivia com a família oriunda de Adamantina, na Alta Paulista. Ele cresceu, foi para a capital paulista, se formou em técnico agrícola, mas trabalhou muitos anos no comércio como vendedor, prestando assistência técnica e desempenhando outras atividades bem distantes do seu mundo de criança. “Eu tinha 11, 12 anos e sempre ficava maravilhado com as pimenteiras cultivadas ao longo do cafezal”, reforça.
Mas, aos 52 anos, de volta à Adamantina, pesquisou, foi atrás de novos conhecimentos e fez a opção que mudaria sua vida: arrendou quatro hectares de terra e passou a cultivar pimentas, as mais variadas. Há dez anos na atividade, Narciso não tem nenhum arrependimento na aposta no crescimento dessa cadeia. “O mercado está em plena expansão, muitas variedades tornaram-se mais conhecidas pelos consumidores e muitos estão agregando valor com pequenas agroindústrias que foram surgindo nos últimos dez anos”, conta.
Ele planta desde a Biquinho, de sabor suave e muito apreciada, passa pela também conhecida Dedo-de-moça, e vai para outras que cresceram no mercado brasileiro, como a Jalapeño, de origem mexicana, que se tornou a mais usada na fabricação de diversos molhos; até as mais ardidas e que têm público mais específico, como a Scorpion (segunda em grau de ardência), a BhutJolokia, terceira mais forte, e a Habanero, a quarta na posição. “Em 2021, vou cultivar 5 mil pés da Carolina Reaper, que é a primeira no ranking das mais ardidas”, conta Narciso. “Eu compro as mudas que são cultivadas em viveiro ‒ é melhor deixar esta etapa na mão de quem entende ‒, os viveiristas são experientes no que fazem e produzem mudas sadias, por encomenda de cada produtor”, ensina o produtor. “O Brasil inteiro produz pimenta, geralmente em pequenas propriedades, e são cultivadas desde as mais comuns, como a Comari, a Malagueta, a Bode Vermelha e Bode Amarela, Biquinho, Dedo-de-moça, de Cheiro, até outras”, explica Narciso, que constantemente troca ideias e conhecimentos com o engenheiro agrônomo da Casa da Agricultura de Adamantina, Maurício Konrad. “Ele me ensina e eu ensino a ele para que repasse a outros este conhecimento que fui adquirindo ao longo dos anos. Há muita demanda por informação, já que a pimenta é boa alternativa para pequenas áreas. Eu procuro sempre estar informado sobre manejo, tecnologias e também novas demandas de mercado, uso as informações obtidas tanto no Estado de São Paulo, com técnicos e outros produtores, como em outras localidades fora do estado para quem eu também vendo", complementa. (Com informações de Paloma Minke, da Secretaria da Agricultura e Abastecimento de São Paulo)
Divulgação/AgriculturaSP
Narciso da Silva: “As grandes indústrias também são um mercado muito promissor”
As pequenas agroindústrias de pimentas surgem a cada temporada e se firmam no mercado, desde as artesanais até as mais processadas
A colheita da maioria das pimenteiras ocorre a partir de 120 a 150 dias do plantio, mas depois pode passar seis meses ainda em produção. O pico da colheita vai de junho até agosto, mas chega até dezembro, escalonada e com redução, ou seja, um ano de produção, dependendo do manejo correto, dos tratos culturais, da irrigação e adubação necessárias e da variedade escolhida. “A Jalapeño, por exemplo, oferece três colheitas, o pico é em julho”, afirma Narciso Antonio da Silva.
O produtor explica que em São Paulo as pimentas costumam ser cultivadas a partir de 15 de fevereiro; as mudas são produzidas em janeiro e levam cerca de 45 dias para estar prontas a ir para o campo, porém cada Estado planta em uma época. Trata-se de uma cultura bianual, que gosta de clima ameno, noites longas e pouco frio; é possível passar um ano ou pouco mais colhendo.
Depois, é preciso fazer a rotação com outras culturas e plantar em outras áreas. “No meu caso, eu faço rotação com batata-doce (outra cultura em expansão), abóbora e milho”, ensina Narciso, que este ano colheu cerca de 20 toneladas da Dedo-de-moça e cinco toneladas da Biquinho.
Em 2020, o produtor optou por não plantar a Jalapeño, porque tinha pouca área, mas costuma reservar 1,5 hectare para a variedade preferida da indústria e, com 50 mil pés, costuma colher em torno de 30 toneladas/ano. Em 2021, vai testar a ardida Carolina Reaper em 5 mil pés já encomendados para o viveirista.
Na propriedade, em Adamantina, a mão de obra é avulsa e somente quando há necessidade, como no pico da colheita, no qual o maquinário utilizado é só para pulverização. “É uma excelente alternativa para a agricultura familiar”.
De acordo com Narciso, de dez anos para cá, houve muita diversificação e valor agregado com a oferta de diferentes sabores: molho de churrasco, caseiro, com alho, defumado, com pequi, cremoso. “As microfábricas estão se expandindo e fazendo esses molhos diferenciados”, conta, provando que entende não apenas de pimenta, mas da história das pimentas.
As pequenas agroindústrias de pimentas surgem a cada temporada e se firmam no mercado, desde as artesanais até as mais processadas. “As grandes indústrias também são um mercado muito promissor, principalmente para a Jalapeño, utilizada como base em todos os molhos e que, por ser mais suave, acabou conquistando um público maior”.
Produzidas em todo Brasil e com a oferta de diversas variedades para diferentes nichos de mercado, a pimenta caiu no gosto do brasileiro. É ideal para pequenas áreas de cultivo e há possibilidade de ganho em toda a cadeia, desde a oferta in natura aos atacadistas e compradores avulsos até as pequenas agroindústrias de marcas diversas e às grandes processadoras.
DIFERENÇAS NA PICÂNCIA E NO AROMA:
Pimenta Dedo-de-moça
Tem picância e aromas suaves, sendo uma das espécies mais famosas no país, usada de Norte a Sul do Brasil. Usada pelos índios brasileiros desde antes da chegada dos europeus, também é conhecida como pimenta vermelha ou chifre-de-veado. A pimenta Dedo-de-moça pode ser encontrada nos mercados em conservas, crua, curtida, como ingrediente de molhos e sobremesas.
Pimenta Biquinho
Possui vários benefícios e propriedades saudáveis para o organismo. Essa pimenta contém betacaroteno, uma substância antioxidante e que auxilia o organismo humano a absorver melhor as vitaminas A e C, por isso é um alimento que fortalece o sistema imunológico.
Pimenta Habañero
É uma das mais ardidas do mundo, tem origens na península de Yucatán, no México, e em Havana, capital cubana. É da espécie Capsicumchinense e foi inicialmente produzida pelos povos Maias. Seu fruto pequeno dá um ar inofensivo, mas esconde uma picância única, que é descoberta já na primeira mordida. Nas pimentas desta espécie, o sabor é forte e marcante.
A cultura da pimenta no município de Adamantina tem feito uma dupla perfeita com a do maracujá amarelo, outra de destaque na região. O engenheiro agrônomo da Casa da Agricultura de Adamantina, Maurício Konrad, argumenta: “O período de safra do maracujá vai de novembro a maio e o da pimenta Dedo-de-moça tem produção, principalmente, de maio a dezembro; tendo essas duas culturas, os produtores podem ter renda o ano todo”.
Maurício conta que “há vários tipos de agricultores que cultivam pimenta em Adamantina e que essa é uma boa alternativa para a agricultura familiar da região, mas não só para pequenas propriedades, pois encontra clima favorável para o bom desenvolvimento e uma considerável produção”.
As três variedades mais cultivadas, segundo o técnico, são a Dedo-de-moça, a Biquinho e a Jalapeño. A Jalapeño possui dois mercados: quando colhida madura, vai para as indústrias de fabricação de molho; já as colhidas verdes vão para a Ceagesp.
A Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável também promove capacitações relacionadas à pimenta: em março, já durante a pandemia, foi oferecida uma capacitação online para a pimenta Maria Bonita, uma nova variedade da Biquinho desenvolvida pela UFSCar (Universidade de São Carlos).
"É um ano muito favorável e esperamos que, com situações climáticas melhores, tenhamos a manutenção dessa safra, que sinaliza bons momentos para a produção brasileira".
Silvio Farnese, diretor de Comercialização e Abastecimento do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, ao anunciar nesta semana que a safra de grãos no país deve atingir 271,7 milhões de toneladas.