O vínculo entre um pai e um filho passa por muitos elos: os momentos do dia a dia, os abraços, os aprendizados, as cobranças... Mas é inevitável: algumas ligações vêm por meio do trabalho. O filho pode seguir a mesma profissão do pai, ou sonhar em trabalhar no mesmo local que ele. Há exemplos assim na Unoeste (Universidade do Oeste Paulista). São gerações diferentes de pais e filhos, mas que sabem que, além do amor, o conhecimento também pode ser uma “herança” transformadora.
No caso do Bruno Bragaroli Pomini, estudante do 2º termo de Odontologia, a profissão do pai foi inspiração. Hoje, ele pode encontrar o pai, Marcelo Pomini, cirurgião-dentista e professor da Unoeste, nos corredores do campus.
O interesse pela área veio naturalmente, de berço: além do pai, a mãe (Ana Paula Bragaroli Pomini) também é dentista. Os tios também trabalham nessa área. Além disso, Bruno sempre foi mais inclinado para a parte de biologia durante o período escolar. Quando começou a acompanhar alguns atendimentos (geralmente quando os pacientes eram familiares), a odontologia começou a brilhar mais a seus olhos.
“O que eu mais admiro na profissão é poder restaurar a autoestima. É ter o conhecimento suficiente para ajudar uma pessoa que perdeu a autoestima, muitas vezes, por um fato bobo ou por um procedimento que foi feito inadequadamente”, explica.
Marcelo disse que nunca tentou influenciar os filhos sobre a questão de profissão. Além do Bruno, ele também é pai do Gabriel (que atualmente cursa Medicina na Unoeste) e da Ana Luísa, que está no segundo ano do ensino médio. Mas foi possível perceber o interesse do Bruno desde criança.
“Dos três, ele é que acabava acompanhando o nosso trabalho de professor em casa, de montar material, de montar a prova. Ele queria saber se o meu aluno tinha ido bem ou mal na prova. A gente produz muito material didático com fotografias de casos e ele sempre acompanhou bastante. Então, a gente já imaginava que ele teria “algum pezinho” na odontologia. Mas foi ele que tomou a decisão. A única coisa que orientamos: escolha alguma coisa que te faça bem, o dinheiro é consequência do nosso trabalho bem feito”, relembra.
O fato dos dois estarem em postos diferentes, mas no mesmo curso, traz segurança para pai e filho. “Eu ainda não tenho aula com ele, vai demorar um pouquinho. Mas só o fato dele estar comigo aqui, dá uma força a mais. Eu tenho mais vontade de estudar, porque eu estou vendo que ele também está trabalhando e ajudando alunos iguais a mim a se tornarem profissionais”, conta Bruno.
“Ter o Bruno e o Gabriel estudando aqui [na Unoeste] traz muito conforto, muita segurança. Porque a gente que participa do desenvolvimento, do crescimento dessa instituição, mais do que ninguém sabe quão séria, quão importante é essa formação. Fico realmente muito contente, muito satisfeito por eles estarem aqui”, afirma o professor Marcelo.
O Marcelo não nega que é um pai mais rígido. “Eu sou um pai chato. Eu cobro muito, eu pego no pé, eu exijo algumas coisas. A gente não faz isso somente porque é chato. Porque queremos que eles se tornem pessoas melhores, pessoas decentes numa sociedade em que ouvir um “obrigado” é quase um luxo hoje. Além disso, [na Odontologia], a gente precisa cuidar do paciente como a gente cuida de um familiar”, explica.
Admiração não falta. Mas você já deve ter ouvido isso em outras famílias: pai e filho acabam não expressando em palavras o amor que sentem. Isso também acontece um pouco na história deles. Mas não faltam demonstrações de afeto, e uma delas fez com que as lágrimas saíssem dos olhos do Bruno, sem que ele pudesse controlar muito.
“A gente acaba esperando alguma cobrança [por parte dos pais], mas também precisamos lembrar dos agradecimentos. Teve um dia que ele me viu estudando, não lembro se as provas tinham começado ou não... Depois, eu estava na aula de Anatomia, chegou uma mensagem do meu pai. Eu pensei: ‘por que meu pai está me mandando mensagem agora? Já deu horário para ele ter ido embora ou ir almoçar com a gente?’. Eu fui ver. Até favoritei, eu nunca vou esquecer. Ah, eu não vou conseguir...”. Foi preciso de um respiro para o Lucas terminar de contar. “Era: 'Parabéns, filho. Continue sendo a pessoa que você é, estudioso. Estou muito orgulhoso de você'. Eu não consigo esquecer essa mensagem. Eu lembro do momento da aula em que eu saí. Na hora que eu li, eu ia começar a chorar e saí da aula".
Foto: Cedida - Ana, Kelly, Caio Augusto e Kim, fotógrafo da Unoeste
São 30 anos registrando fatos, momentos e emoções por meio da fotografia: 26 deles na Unoeste. Mas assim como na história do Bruno e do Marcelo, para o fotógrafo Ector Gervasoni – mais conhecido como Kim -, nem sempre é fácil descrever em palavras o que a paternidade representa. Mas ele encontrou: “A melhor coisa do mundo”.
O Caio Augusto, que está prestes a completar 16 anos, e a Ana Carolina, que completa 5 anos neste mês, são o “príncipe” e a “princesa” da vida do Kim. O desejo da paternidade era antigo, desde “molecão”, mas chegou antes do que esperava.
“Eu ia casar em julho quando descobrimos que a Kelly [esposa] estava grávida. Aí, adiantamos o casamento para março. Não estava na nossa programação, mas foi um espetáculo. Eu sempre quis ser pai. Quando fiquei sabendo... Gente, a coisa melhor do mundo é ser pai”.
Quando o Kim chega em casa, a Ana Carolina – ou melhor, a Aninha – recebe o pai com abraço, beijo e adora o momento de ouvir uma “historinha” para dormir (principalmente, de “cachorrinho”). Antes de sair, ela sempre tem uma pergunta na ponta da língua. “Toda hora ela diz: 'você está indo trabalhar? Pai, quero ir com você. Quero ir na Unoeste'”, conta.
Os filhos entendem a profissão do pai – afinal, ele passa muito tempo mexendo com câmeras e equipamentos. Isso também rende bons momentos. “Quando a Ana pega o celular, fica tirando foto até das paredes, de tão engraçado que ela acha. Ela adora! Adora a profissão do pai”.
Cada momento simples como este vai transformando a vida. “Tudo que você vai comprar, que você vai fazer, tudo você pensa no filho. A vida é outra”, relata.
A Aninha, por sua vez, é muito boa com as palavras. Faz amizade fácil, é curiosa e tem um sorriso cativante, principalmente quando está ao lado do pai. Mais para frente, a Aninha poderá realizar o seu sonho de fazer Medicina e se tornar “doutora”. Segundo o Kim, o Caio Gustavo deve seguir na área da Informática. Enquanto a fase da faculdade não chega para eles, o Kim continua a registrar os estudantes que já estão nessa etapa da vida – com um olhar profissional, mas também com olhar de pai sobre eles.
Esse olhar para a faculdade com a visão de pai também está presente para o professor Marcelo Pomini. “Essa questão de ser pai é muito próxima de ser professor. Da gente cuidar, ensinar, querer o bem, querer o crescimento desse aluno, assim como a gente quer de um filho”, pontua.